Audiência pública em Ijuí debate o impacto dos agrotóxicos na saúde e meio ambiente

 Foto: Thiago KöcheO Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (FGCIA) realizou, nesta sexta-feira (10), a primeira audiência pública do ano, no Município de Ijuí, na região Noroeste do Rio Grande do Sul. O objetivo do evento foi trocar informações, debater e propor encaminhamentos a respeito dos impactos do uso de agrotóxicos na saúde e no meio ambiente.

O público foi de aproximadamente 600 participantes, lotando o salão de atos da Unijuí. Uma encenação teatral do MST, por integrantes da Escola Estadual de Ensino Médio Joceli Corrêa, do assentamento do Município de Rondinha antecedeu as discussões.

A palestra de abertura foi do coordenador do Grupo de Trabalho de Agrotóxicos e Transgênicos da Associação Brasileira de Agroecologia, Leonardo Melgarejo, também engenheiro agrônomo da Emater. O especialista reiterou que o Brasil é o principal consumidor de agrotóxicos do planeta e o Rio Grande do Sul tem média superior a nacional, que é de 5,2 litros por pessoa por ano. A região de Ijuí tem consumo de quatro a cinco vezes maior que a média brasileira. Disse que são falsas as ideias de que não existe degradação ambiental e que é possível a eliminação total do veneno pelo corpo humano.

 

A audiência seguiu com apresentações do coordenador adjunto do FGCIA, Carlos Roberto Lima Paganella (procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do MP Estadual) e do delegado da Polícia Federal em Santo Ângelo, Mário Luis Oliveira dos Santos. O deputado estadual Edegar Pretto citou pesquisa em que cem mães que amamentavam tinham agrotóxicos no leite. “O que importa é o lucro, não interessa o que está indo para a mesa dos brasileiros”, declarou o parlamentar. Citou o caso de um pecuarista, perto de Santa Vitória do Palmar, que começou a ter diminuído o número de cabeças de ovelha, depois que duas fazendas de arroz iniciaram o uso de pulverização aérea. O deputado apresentou os projetos de lei de sua autoria que tramitam na Assembleia Legislativa contra o uso abusivo de veneno e em defesa da produção saudável de alimentos.

11133787_835525299854848_3558210129429653189_nO procurador da República em Santo Ângelo, Osmar Veronese, lembrou que muitas investigações têm encontrado agrotóxicos ilegais nos galpões dos agricultores. E os agricultores nem sabem dizer quem vendeu os venenos para eles.

A presidente da Associação Ijuiense de Proteção ao Ambiente Natural (Aipan), Francesca Ferreira, leu uma carta aberta de movimentos locais. Uma das principais reivindicações é que os princípios da prevenção e da precaução sejam balizadores da atuação do FGCIA e do Judiciário. Um representante do MST, Sérgio “Chocolate” Marques, de um assentamento no Município de Joia, apresentou vídeo com depoimentos de agricultores atingidos pelo uso de venenos.

A sanitarista do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Vanda Garibotti, abordou a intoxicação silenciosa. Explicou que é um processo tóxico em que as manifestações ficam escondidas, é um processo de longa latência, traz dano progressivo, acumulativo e que pode eventualmente florescer. O professor do Departamento de Estudos Agrários da Unijuí, Roberto Carbonera, destacou que o uso de produtos extremamente tóxicos significa intoxicação de pessoas, contaminação do meio ambiente e comprometimento de lavouras. Alguns presentes à audiência e que se inscreveram no decorrer do evento puderam também se manifestar.

Para a coordenação do Fórum, a experiência foi extremamente positiva. A expectativa de público foi superada, pela quantidade e pela qualidade das participações e depoimentos, alguns muito emotivos. A audiência foi gravada e o material colhido será analisado para eventuais encaminhamentos e, também, para subsidiar novos eventos da mesma natureza.

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