Dia 23 de dezembro de 2012

Quando a lavoura vira praga

do boletim da AS-PTA - Número 612 - 21 de dezembro de 2012

Conforme divulgamos no Boletim 610, em outubro último a revista científica Environmental Sciences Europe publicou a primeira pesquisa revisada por pares analisando o impacto das lavouras transgênicas sobre o uso de agrotóxicos, utilizando dados do Departamento de Agricultura do governo dos EUA (USDA).

No caso das lavouras tolerantes à aplicação de herbicida, os dados oficiais mostraram um aumento de 239 milhões de kg no uso dos venenos nos EUA entre 1996 e 2011. Especificamente sobre esse tipo de modificação genética, os números indicam que, em 2011, nos EUA, o volume de herbicidas aplicados foi 24% maior nas lavouras transgênicas do que nas áreas onde são plantados cultivos não transgênicos.

Inúmeras evidências empíricas aqui no Brasil têm corroborado essas conclusões. Pelo menos cinco espécies de plantas invasoras já desenvolveram resistência ao glifosato, ingrediente ativo do herbicida Roundup, utilizado nas lavouras transgênicas, o que tem levado agricultores brasileiros a aplicar doses reforçadas do produto ou recorrer a combinaçoes com herbicidas mais tóxicos (como 2,4-D e atrazina) buscando eliminar o mato que não mais é controlado pelo sistema ‘semente transgênica + herbicida’.

Mas um caso que chama a atenção nesse sentido, cada vez mais recorrente no Centro-Oeste, é aquele em que as próprias lavouras transgênicas transformam-se em plantas invasoras na sucessão de safras como no caso soja/milho. Explicando melhor: o clima da região permite a obtenção de duas colheitas a cada ano, sendo frequente a alternância entre o plantio de soja com o de milho ou algodão (em lugares como o Mato Grosso, por exemplo, a “safra” e a “safrinha” podem chegar a adquirir igual importância econômica). Agora, com o crescente uso das sementes transgênicas tolerantes a herbicidas, grãos remanescentes de plantios anteriores estão gerando plantas “invasoras” nas novas safras, também tolerantes ao herbicida – o que complica o novo plantio.

Ambientalistas pedem a suspensão de agrotóxicos da Bayer, Basf e Syngenta


Ao revelar que no México existem 27 inseticidas altamente perigosos comercializados por Bayer, Basf e Syngenta, organizações ambientalistas enviaram carta aos executivos das transnacionais, exigindo a suspensão das vendas desses produtos “por seu impacto à saúde humana e ao meio ambiente”.

De acordo com um comunicado, “no dia internacional do Não uso de pesticidas, mais de 120 organizações e 10 mil pessoas mundialmente enviaram uma carta aos executivos das transnacionais Syngenta, Bayer e Basf, exigindo que deixem de vender pesticidas altamente perigosos à saúde humana e ao meio ambiente. Estas transnacionais fabricam, em seu conjunto, 50 inseticidas altamente perigosos que, em muitos casos, não são vendidos ou não estão registrados em seus países de origem e, no entanto, são comercializados em países da Ásia, África e América Latina”.

"A carta foi dirigida à suíça Syngenta, e as alemãs Bayer Cropscience e Basf porque elas são, em grande parte, responsáveis pelos envenenamentos e problemas ambientas causados pelos pesticidas. As três transnacionais foram beneficiadas, em 2012, com 47% das vendas do mercado mundial (seguidas das estadunidenses Monsanto, Dow e DuPont)”.

A carta foi uma iniciativa de Pestizid Aktions-Netzwerk e.V. – PAN Alemanha (rede de ação contra os pesticidas) e tem como título “Pesticidas altamente perigosos da Basf, Bayer e Syngenta. Resultados de uma investigação internacional”. Indica que há mais de 25 anos a indústria e os governos promovem o “uso seguro dos inseticidas”, no entanto, os problemas ocasionados pelos agrotóxicos continuam. Neste relatório, o PAN discrimina os produtos altamente perigosos que são divulgados em páginas eletrônicas das transnacionais em seu país e em nove países da Ásia, África e América Latina (Brasil e Argentina).