No debate sobre a lei que permite a pulverização aérea de agrotóxicos para combate ao mosquito da dengue, muitos defensores da proposta argumentaram que o produto usado não causa doenças em seres humanos. Será?
Perguntamos à professora Ph.D. Lia Augusto Giraldo, médica e pesquisadora da Fiocruz e Universidade de Pernambuco: o Malation, substância utilizada contra o mosquito Aedes nas cidades, é prejudicial à saúde?
Lia Giraldo:
“Para a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma substância é cancerígena quando é capaz de aumentar a incidência de tumores malignos, reduzindo o tempo para seu aparecimento, ou aumentando sua gravidade ou sua capacidade de produção de metástases. A indução de tumores benignos, também em alguns casos, pode ser um critério para julgar se algum produto é cancerígeno.
Os critérios utilizados para classificar uma substância como cancerígena levam em consideração evidências de efeitos sobre o material genético, outros mecanismos de patogenicidade, como a indução da proliferação celular e características físico-químicas do agente que esta sendo avaliado. Para identificar os agentes cancerígenos para seres humanos, o IARC realiza revisões de todos os estudos epidemiológicos, experimentações em animais de laboratório e culturas de células, publicados e disponíveis nas principais bases de dados. Para elaborar as suas publicações, o IARC adota como metodologia a constituição de grupos de especialistas internacionais para produzir consensos.
No caso do Malation, que é um agrotóxico organofosforado (e que vem sendo utilizado para o enfrentamento do Aedes aegypti em áreas urbanas), o IARC em 20 de março de 2015[1] o considerou como um carcinógeno do Grupo 2A – provável cancerígeno para humanos. Isto por que os estudos avaliados mostram uma relação causal entre o malation e câncer em animais de laboratório, e nos estudos com seres humanos existem evidências fortes nesse sentido, mas ainda não foi possível estabelecer a relação causal com os estudos disponíveis. Além de danos nos cromossomos humanos, o Malation é um desregulador hormonal, efeito que também pode causar câncer [2]”.
[1] https://www.iarc.fr/en/media-centre/iarcnews/pdf/MonographVolume112.pdf
[2] http://www1.inca.gov.br/vigilancia/docs/ex_ocup_ambient2006.pdf