por Alan Tygel
Cúpula dos povos reúne lutadores contra os agrotóxicos da América Latina
A Via Campesina reuniu nesta terça-feira (19) campanhas contra os agrotóxicos de todo o continentes na Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro. O objetivo do encontro foi socializar as experiências de luta contra os venenos e articular a construção de um movimento latino-americano unificado partindo das experiências já em construção.
O quinto congresso da CLOC-Via Campesina, realizado em Quito em 2010, decidiu lançar uma campanha continental contra os agrotóxicos e pela e vida. Dentre os objetivos da campanha, estão a luta contra as transnacionais dos venenos ,a erradicação dos agrotóxicos e a promoção de uma agricultura alternativa baseada na agroecologia.
“Viendo mi tierra”
Os participantes dos diversos países colocaram a situação da luta contra os venenos em seus países. Silvia Rodriguez, da CONAMURI – Paraguai, reforçou um problema comum a todos: os incetivos dos próprios governos ao uso de agrotóxicos. Segundo ela, a utilização dos químicos vem causando perda de fertilidade da terra, levando muitos camponeses a abandonar suas propriedades. “Na região de Caaguazu, vemos muitas placas escritas: Viendo mi tierra. Já não conseguem produzir mais nada. Além disso, os animais são muito prejudicados. Em tempos de pulverização aérea, o vento carrega os agrotóxicos e os pintinhos amanhecem todos mortos”.
Outro ponto bastante abordado foram os transgênicos. Os representantes do México deixaram claro que a luta principal naquele país é pela preservação da biodiversidade, sobretudo do milho. Esta cultura realiza polinização cruzada pelo ar, e por isso os cultivos transgênicos podem contaminar o milho nativo, uma tradição milenar da região.
Por isso, os representantes brasileiros alertaram que o Brasil está prestes a aprovar cultivos resistentes ao 2,4 D, um dos herbicidas mais tóxicos existentes. Neste sentido, a luta contra os transgênicos e contra os agrotóxicos é indissociável. A liberação das variedades resistentes ao 2,4 D vai impulsionar o uso deste agrotóxico, que é o princípio ativo do agente laranja, utilizado na guerra do Vietnan.
Agroecologia é o caminho comum
Em todos os países, a solução apresentada pelo movimentos é a mesma: a agroecologia, um modelo de desenvolvimento do campo que respeita o agricultor e garante a soberania alimentar dos povos. Neste sentido, Cuba vem tendo um papel fundamental na formação de militantes latino-americanos. É o caso do Paraguai, que está formando técnicos em agroecologia em Cuba para trazer a experiência ao país.
Os equatorianos ressaltaram a importância da atuação também no lado do consumo, para que se tenha claro de onde vêm os produtos. Neste sentido, a lei equatoriana já prevê a Economia Popular e Solidária, que atua na priorização das compras de pequenos agricultores. “Ao invés de pagar a grande empresa, pagamos os companheiros.”
Da troca de experiências, ficou claro que os agrotóxicos e transgênicos são um problema comum a todos os países da América latina, e que a agroecologia é a solução legítima dos movimentos sociais para a produção de alimentos saudáveis.
O caminho agora segue pela construção de uma campanha continental que possa potencializar as experiências locais e dar força à luta contra os agrotóxico na América Latina.