No Oeste do Pará, os povos do campo, das águas e das florestas discutem o enfrentamento aos impactos dos agrotóxicos em seus territórios

Por Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida 

Durante os dias 11 a 13 de setembro foi realizada a terceira e última etapa do curso de saúde, agrotóxicos e agroecologia, que contou com presença de 50 participantes de diferentes municípios de Santarém e região metropolitana, todos e todas vindos de sindicatos rurais, movimentos sociais, grupos e redes de agroecologia e bem viver, ONGs, associações, ou seja, os povos do campo, águas e florestas.

Durante três dias, foi possível traçar e elaborar ações estratégicas e táticas na região, referente aos impactos que suas comunidades vêm sofrendo perante o uso de agrotóxicos, sobretudo, na saúde da população de forma geral, tais como vômitos e diarreias, abortos, má formação fetal e entre outros. 

A região onde ocorreu a atividade de formação fica localizada no Oeste do Pará e historicamente é marcada pela diversidade de comunidades e povos tradicionais (agricultores e agricultoras familiares, ribeirinhos, pescadores, pescadoras, agroextrativistas, quilombolas e povos indígenas), caracterizados pelo pertencimento, compromisso com seus territórios e pelo uso sustentável da natureza (solo, igarapés, rios, florestas, capoeiras, caça, pesca e a biodiversidade).

Porém, em meados do ano 2000, a expansão da fronteira agrícola chega até a região através do agronegócio de grãos, principalmente a soja. Esta chegada fez surgir uma estrutura política e territorial que ameaça estes territórios e seus modos de viver, causando diversos danos socioambientais como: desmatamentos descontrolados, queimadas, contaminação do solo e da água, perda da biodiversidade e das sementes crioulas. Além destes, outros problemas acompanharam este processo: abertura de estradas sem planejamento, grilagem de terra, monocultivos com uso intensivo de agrotóxicos e pulverização aérea com drones, doenças e perda da biodiversidade, perda de produção, extinção de comunidades, especulação imobiliária, concentração fundiária, ameaça as vidas de moradores e defensores dos territórios e a natureza. 

Atualmente, vivenciamos um aumento intensivo de queimadas consumindo biomas importantes do país, são áreas enormes de florestas devastadas por incêndios, rios desertificados e cidades encobertas por fumaça. Historicamente, os povos do campo, das águas e das florestas denunciam a gravidade dos impactos do atual modelo de desenvolvimento brasileiro pautado pelo agronegócio e sua produção de monoculturas, que desconsideram a sociobiodiversidade, se mostra cada dia mais insustentável.

Segundo Bruna Balbi, da Terra de Direitos, as queimadas vivenciadas na Amazônia vêm de décadas e representam o avanço da fronteira agrícola, que vem desde o Centro Oeste para a Amazônia com a expansão do agronegócio para a plantação de grãos, principalmente a soja para exportação.”A monocultura de soja depende do uso intensivo de agrotóxicos, que assim como as queimadas impactam diretamente no meio ambiente e na saúde da população da Amazônia.” 

O fogo pode ser considerado parte da cadeia de produção, que tem como outro elemento nocivo os venenos utilizados nas plantações. Os agrotóxicos são usados para limpar uma área que será convertida em monocultura. Quem nos lembra desse processo é Erlon Costa, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Monte Alegre no Pará. “A queimada é o primeiro processo que utiliza para fazer a limpeza do terreno da terra, para depois fazer a plantação e consequentemente usar o agrotóxico.” 

Porém, tal qual o fogo e a fumaça que se alastram pelo país, os danos decorrentes do uso de venenos nas plantações não ficam restritos àqueles locais. Além de ser uma estratégia de seguir ampliando a fronteira agrícola na região, acentuando a expulsão dos povos de seus territórios e a emergência climática. 

Ivete Bastos, do sindicato de trabalhadores/as rurais de Santarém, salienta que é recente a compreensão do porquê as queimadas nos últimos cinco anos aceleraram tanto? Principalmente, nos últimos dois anos, 2023 e 2024. 

“A gente percebe que onde há áreas de plantio do agronegócio, que é da soja, na nossa região. As únicas regiões que podem ser área de reserva das propriedades, estão sendo pulverizadas, algo que acelera a supressão das florestas e ela vai morrendo aos poucos, dependendo do tipo de veneno que são agressivos. E consumam isso com as queimadas, onde depois irão alegar que ali não é mais a floresta nativa, então invadem e consumam o desejo de ampliar o plantio.”

Logo, cada vez mais fica evidente a necessidade de entender o agronegócio e seus tentáculos de forma única e não fragmentada. Nesse sentido, esta etapa começou com a análise de conjuntura dos agrotóxicos no Brasil, uma análise das políticas públicas em vigor que regulam, reduzem e proíbem agrotóxicos a exemplos da lei de pulverização aérea no Ceará e no Maranhão, como elaborar um projeto de lei e oficinas de agitação e propaganda.  

Além disso, tratou dos dados da cartografia social de denúncias e anúncios e colocou no mapa as ações nos eixos da denúncia nacional e internacional, além de anúncio na promoção da agroecologia, defesa do Pronara e incidência na COP 2025.

Por fim, em tempos de eleições municipais, o curso ainda elaborou uma Carta da região amazônica para os candidatos, pautando os danos socioambientais e à Saúde Humana. As práticas agroecológicas como resposta à crise socioambiental e não envenenamento dos corpos, territórios e mentes. 

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