
Por Roberta Quintino l Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida.
A Conferência Internacional “Cooperação Sul-Sul e Multilateralismo para a Segurança Hídrica, Alimentar e Climática” será realizada nesta quarta-feira, 6 de novembro, em Ananindeua (PA). O evento antecede a COP30 e a Cúpula dos Povos, que acontecem ainda neste mês em Belém. A conferência reunirá representantes de governos, organismos multilaterais, instituições de pesquisa e movimentos sociais para discutir estratégias de enfrentamento às crises climática, hídrica e alimentar.
Com temas como cooperação Sul-Sul, Soluções Baseadas na Natureza (SBN), inovação socioambiental, justiça climática e agrotóxicos de alto impacto, o encontro busca promover a troca de experiências e consolidar compromissos conjuntos entre países do Sul Global. A atividade é promovida pelo Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (CIRAT), em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Na programação, está prevista a mesa “Redes de Colaboração em Favor da Vida e Contra os Agrotóxicos de Alto Impacto”, com participação de Jakeline Pivato, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, e da professora e diretora científica da Aliança Internacional para Padronização de Agrotóxicos (IPSA), Larissa Bombardi, referência internacional no tema. A mesa também contará com a presença do subprocurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Pedro Serafim, e de Edel Nazaré Moraes, da Secretaria Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais do MMA.
No momento em que o tema da sustentabilidade ganha importância global, Jakeline aponta que o Brasil vive uma de suas maiores contradições, ao mesmo tempo que se apresenta como liderança ambiental, mantém o posto de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Para ela, essa contradição precisa ser enfrentada de forma aberta, especialmente diante de eventos globais como a COP30.
Nesse sentido, Jakeline considera a conferência um espaço estratégico para a construção de compromissos e ações que potencializam o enfrentamento aos agrotóxicos, cujo impacto sobre a segurança hídrica e alimentar é cada vez mais evidente.
Além disso, Jakeline destaca que a Campanha tem acompanhado denúncias e estudos sobre o aumento da presença de agrotóxicos nas águas, “desde territórios indígenas e quilombolas até as torneiras das casas nas cidades”. Essa contaminação amplia a ameaça à segurança alimentar, que não se limita à ingestão de alimentos com resíduos de agrotóxicos (causando intoxicações agudas e crônicas), mas inclui também a poluição das águas e a destruição da capacidade produtiva local.
Para ela, os agrotóxicos não podem ser vistos apenas como um problema de saúde ou ambiental, mas como “o fator que inviabiliza concretamente o avanço da agroecologia” e, junto com isso, compromete a garantia de um futuro alimentar e hídrico seguro para os povos.
Mudanças necessárias
A Campanha reforça que, diante das falsas soluções do chamado “agronegócio verde”, é urgente fortalecer a cooperação internacional entre os povos do Sul Global com base na agroecologia e na soberania alimentar.
“Acreditamos em iniciativas de cooperação internacional que foquem na produção de alimentos tendo como base os princípios agroecológicos, como a equidade, a cooperação, a sustentabilidade, a diversidade e a resiliência. Experiências que promovam sistemas agroecológicos mais resilientes e com maior capacidade de recuperação frente a situações extremas, como secas, inundações e doenças. Acreditamos no êxito de experiências que compreendem a agroecologia como uma ciência, um movimento social e uma prática baseada em princípios interligados e interdependentes para transformar os sistemas alimentares em direção à sustentabilidade e à justiça social”, afirma Jakeline.
Agrotóxicos sem Fronteiras
A programação da conferência inclui o lançamento da exposição digital “Fronteiras Invisíveis dos Agrotóxicos” e a exibição do curta-metragem “Agrotóxicos sem Fronteiras: Um Dilema Global”, dirigido por João Amorim. O filme, protagonizado por Larissa Bombardi, revela a desigualdade na regulação de agrotóxicos entre os países do Norte e do Sul Global, mostrando como substâncias proibidas na Europa continuam a ser produzidas e exportadas para países em desenvolvimento.
Confira a programação completa:

