O dia iniciou com um ato político realizado em frente do Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, onde acontece o júri.
Por Francisco Barbosa
Do Brasil de Fato | Fortaleza (CE)
Teve início na manhã desta quarta-feira (9), a realização do julgamento de um dos envolvidos no crime de assassinato de Zé Maria do Tomé, ocorrido no dia 21 de abril de 2010.
O dia iniciou com um ato político realizado em frente do Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, onde acontece o júri. O ato, que reuniu movimentos populares, ativistas pelos direitos humanos e sindicatos foi repleto de falas pedindo por justiça e uma questão se repetia nas falas: “Quem mandou matar Zé Maria?”, isso porque quem está indo para o banco dos réus é Francisco Marcos Lima Barros, acusado de ser um dos intermediários da contratação do executor.
“Esse dia, para nós do Movimento 21, é muito importante porque até que enfim chegou o julgamento do crime contra o ambientalista Zé Maria do Tomé. Ele que lutava contra a pulverização aérea e a grilagem de terra na Chapada do Apodi. Esse é um dia de celebrar a justiça mesmo que tardia. Infelizmente os pistoleiros que mataram Zé Maria foram mortos, essa não era a justiça que a gente queria. A gente queria a justiça desse jeito que está acontecendo hoje. Esperamos justiça hoje. Esperamos que a justiça seja feita e esperamos saber quem mandou matar Zé Maria do Tomé”, disse em sua fala Reginaldo Ferreira de Araújo, ativista do Movimento 21.
“Esperamos que seja um julgamento tranquilo, porque temos uma expectativa, depois de uma investigação muito longa, esperamos que os jurados sejam convencidos pela condenação. Quero terminar dizendo que nós sim, esperamos a condenação, mas isso não implica necessariamente em justiça. A gente tem hoje uma situação de injustiça no estado do Ceará. Nós temos um caso muito importante, um dos mais importantes do Brasil, ‘um homicídio sem mandante’, e a pergunta que fica em aberto independente do resultado do júri, mesmo esperando que seja a condenação desse réu, é ‘quem mandou matar José Maria do Tomé?’”, disse Cláudio Silva, advogado da família de José Maria.
Deputado Estadual Missias do MST esteve presente no ato. / Foto: Zé Rosa
Durante o ato, o Deputado Estadual Missias do MST também fez uso da palavra. “É lamentável a gente estar aqui hoje, depois de 14 anos, falando de um julgamento que deveria ter acontecido há muitos anos e a gente fica se perguntando por que será que demorou tanto? E os mandantes, os realmente culpados que foram retirados do processo? Será por que o agronegócio no Ceará tem muita força, ou será por que era um trabalhador rural que foi assassinado com mais de vinte tiros, e porque realmente no Ceará os trabalhadores e pobres não têm direito à justiça?”
Kelha Lima, da direção nacional do MST também esteve presente no ato. “Que hoje seja, de fato, feita justiça. Esperamos sair daqui com os nossos corações mais alegres porque, até que enfim, embora que tardia será feita. Nossa luta e nossa resistência estão tendo resultado. Nós precisamos identificar, saber quem é e condenar também quem mandou matar Zé Maria do Tomé”, disse.
O julgamento do acusado começou por volta das 9h. / Foto: Waltembergy Carmo/ASCOMTJCE
O Julgamento
O julgamento do acusado começou por volta das 9h. De acordo com informações repassadas pela assessoria de comunicação do poder judiciário, do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por se tratar de um crime doloso contra a vida, o resultado do júri será definido pelo Conselho de Sentença, formado por sete jurados da sociedade civil, escolhidos a partir de sorteio. “Eles terão a responsabilidade de analisar as provas apresentadas e decidir, de maneira imparcial, sobre a possível culpabilidade do réu”, informa a equipe de comunicação.
O Tribunal de Justiça do Estado do Ceará lembra que, apesar do crime ter acontecido na região de Limoeiro do Norte, devido a repercussão social e local, o processo foi desaforado para Fortaleza.
Um pouco mais das 10h teve início o interrogatório do réu, o acusado Francisco Marcos Lima Barros que começou a responder as perguntas da acusação. Em seguida, será a vez dos advogados de defesa de realizarem os questionamentos.
Ainda pela manhã, um pouco mais das 11h, o teve que ser pausado para que o réu recebesse atendimento médico. As 12h45 o interrogatório do réu foi concluído. O juiz concedeu um intervalo de 30 minutos.
Próximo as 14h a sessão foi retomada com os debates entre acusação e defesa. Nesta etapa, acusação e defesa, de maneira separada, apresentam aos jurados argumentos e provas que sustentem suas respectivas teses. Com a palavra, o Ministério Público terá o tempo de uma hora e meia para as suas alegações.
O Tribunal de Justiça do Estado do Ceará lembra que, apesar do crime ter acontecido na região de Limoeiro do Norte, devido a repercussão social e local, o processo foi desaforado para Fortaleza. / Foto: Francisco Barbosa
Entenda o caso
No 21 de abril de 2010, na localidade do Sítio Tomé, quando estava retornando para casa, José Maria Filho, também conhecido como Zé Maria do Tomé, agricultor, ambientalista e lutador contra a pulverização aérea de agrotóxicos na Chapada do Apodi, foi alvo de emboscada, sendo executado com mais de 20 tiros.