Guerra Química para expulsão de comunidades tradicionais – Maranhão

Município: Buriti
Estado: Maranhão
Ano: 2021
Tipo de contaminação: Pulverização aérea
População atingida: 22 famílias 
Agentes violadores: sojeiros proprietários de fazendas próximas
Agrotóxicos utilizados: Não identificado

Moradores das comunidades tradicionais Carranca e Araçá, no município de Buriti, no Leste do Maranhão, são frequentemente vítimas de intoxicação por ação premeditada de ataques de fazendeiros que utilizam agrotóxicos como arma química. Os frequentes episódios de pulverização de agrotóxicos sobre as casas é uma forma de intimidar e forçar o despejo das famílias do território que é tradicionalmente ocupado há quase 100 anos.

Segundo relatos, em março de 2021 os sojicultores da fazenda vizinha da Comunidade Carranca aplicaram agrotóxicos por pulverização aérea próximo às casas e intoxicaram as famílias que vivem ali. Falta de ar, vômito, dor de cabeça e até febre são alguns dos sintomas apresentados pelos moradores da comunidade, após a aplicação do veneno. As famílias também registraram a morte de animais domésticos, como bodes e galinhas.

Ao tentar falar com os sojicultores sobre os impactos da contaminação por esse tipo de aplicação de agrotóxicos, um dos moradores foi intimidado por funcionários dos fazendeiros, que  ameaçaram colocar “o veneno pior que tinha” em frente à sua casa . 

Pouco mais de um mês depois, algo parecido foi registrado na comunidade Araçá, no mesmo município. Um avião agrícola realizou uma série de voos rasantes sobre a comunidade e despejou agrotóxicos sobre o local, atingindo inclusive crianças que brincavam fora de suas casas. A ação chegou a ser filmada pelas pessoas da comunidade.

Após a passagem do avião, os moradores do local registraram coceiras na pele, ardência nos olhos, problemas respiratórios 

O ataque às duas comunidades foi denunciado a uma série de órgãos, com destaque para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Um  inquérito policial foi instaurado, e três sojicultores vizinhos foram apontados como envolvidos na ação – um deles, inclusive, foi multado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Uma série de exames foi realizada no âmbito do inquérito, mas apenas um mês após o fato. 

Em âmbito judicial, uma ação civil pública também determinou aos responsáveis pela contaminação o pagamento de atendimento médico e de outros custos com hospitais e laboratórios, mas não houve até o momento sentença em relação ao pedido de indenização à comunidade atingida.