Intoxicação de trabalhador em multinacional – Ceará

Município: Limoeiro do Norte

Estado: Ceará
Ano: 2008
Tipo de contaminação: Exposição à agrotóxicos em ambiente de trabalho
População atingida: Vanderlei Matos da Silva, agricultor
Agentes violadores: Empresa Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda
Agrotóxicos utilizados: Herbicidas (Bromacil e Diuron), Inseticidas (Carbaryl, Beta-Cyflithrin, Bacillus Thuringiensis, Imidacloprid), Fungicidas ( Triadimefon, Thiabendazole, Tebuconazole, Fosetyl), Desfoliante (Ethephon).

O trabalhador Vanderlei Matos da Silva tinha apenas 31 anos quando morreu por uma série de complicações causadas por intoxicação crônica de agrotóxicos. Durante três anos, Vanderlei trabalhou no almoxarifado químico da empresa multinacional de fruticultura Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda, no município de Limoeiro do Norte, no Ceará. Lá, o trabalhador era responsável pela separação, pesagem e transporte de agrotóxicos usados na produção de abacaxi. Mesmo o uso dos equipamentos de proteção individual não impediu o adoecimento de Vanderlei.

Os primeiros sintomas de intoxicação do trabalhador apareceram em julho de 2008. Vanderlei começou a sentir dores de cabeça, febre e falta de apetite. Seu olhar era amarelado e o abdômen inchado. Em agosto, com a piora dos sintomas, se afastou do trabalho. Depois, foi internado em Fortaleza no Hospital Universitário Walter Cantídio. Em novembro, morreu por insuficiência renal aguda, hemorragia digestiva alta e insuficiência hepática aguda. Deixou na época a esposa e um filho de dois anos.

A Del Monte tentou se esquivar da responsabilidade sobre o adoecimento e morte do trabalhador, alegando que Vanderlei morreu por conta de Hepatite Viral Aguda. No entanto, a equipe médica que acompanhou o caso conseguiu provar a relação da morte de Vanderlei com a exposição aos agrotóxicos pelo trabalho desenvolvido na empresa. A equipe analisou a evolução do quadro clínico do paciente, entrevistou a família e colegas de trabalho para entender os hábitos e práticas de trabalho da vítima, e realizou uma série de análises da toxicidade dos ingredientes ativos e agrotóxicos informados pela própria empresa no Estudo de Impacto Ambiental (EIA).

Esse é um dos poucos casos em que se conseguiu provar o adoecimento ou morte de uma pessoa pela exposição prolongada aos agrotóxicos. O caso de Vanderlei só chegou a esse resultado pelo fato de, além de ter sido atendido em hospital universitário, ter sido monitorado pelo Núcleo Tramas, um grupo de pesquisa interdisciplinar da Universidade Federal do Ceará que na época estudava os impactos dos agrotóxicos sobre a população na região. 

A morte de Vanderlei foi denunciada ao Ministério Público Estadual, Federal e Ministério Público do Trabalho. Em 2013, a Justiça do Trabalho de Limoeiro do Norte condenou à Del Monte o pagamento de indenização e verbas trabalhistas à viúva de Vanderlei, e estabeleceu o pagamento de uma pensão mensal. A família, no entanto, ainda não recebeu reparação, pois a empresa recorreu da decisão.