Poeira tóxica na colheita de soja em quilombo – Mato Grosso

Município: Poconé
Estado: Mato Grosso
Ano: 2021
Tipo de contaminação: Poeira tóxica em colheita de soja
População atingida: 3 famílias quilombolas
Agentes violadores: sojeiro proprietário de fazenda vizinha

A plantação de soja na  Fazenda Carisma, a menos de 90m do Quilombo de Jejum, em Poconé (MT), traz impactos frequentes às famílias quilombolas. Não são raras as vezes em que os moradores da comunidade sofrem com a pulverização terrestre de agrotóxicos sobre a soja, plantada em um distância menor do que a permitida em decreto estadual que determina a distância mínima entre as residências e o local de aplicação desse tipo de veneno. Por conta disso, além dos sintomas de intoxicação das famílias, plantações e árvores frutíferas dentro do quilombo estão sendo impactadas. 

Em março de 2021, a contaminação, no entanto, foi diferente: a comunidade foi atingida por uma nuvem de poeira tóxica  causada pela colheita de soja que acontecia na Fazenda Carisma, a menos de 10 metros da comunidade. Segundo relatos, agrotóxicos dissecantes de soja haviam sido aplicados na lavoura três dias antes da colheita. 

Depois desse episódio, dezenas de pessoas – inclusive idosos, grávida e até um bebê de dez meses – começaram a apresentar dor de cabeça, náuseas e irritação na pele: sintomas da intoxicação aguda por agrotóxicos. Também houve o registro da morte de peixes criados em tanques para piscicultura, outro indicativo de contaminação.

A Secretaria de Saúde do município foi oficiada sobre o caso.  A comunidade também procurou entidades parceiras e o caso foi denunciado ao Ministério Público do Trabalho, que abriu um Inquérito Civil para apurar a situação. 

Uma pesquisa conduzida em 2021, pela ONG Fase e pelo Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Mato Grosso constatou a presença de oito tipos de agrotóxicos nas águas que abastecem os quilombos da região – incluindo a comunidade quilombola de Jejum. Dos agrotóxicos identificados, cinco deles estão banidos na União Européia e em outros países por conta dos riscos que apresentam à saúde humana.