Danos dos agrotóxicos à saúde reprodutiva é tema de dossiê lançado pela Abrasco e ENSP

Roberta Quintino l Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida.

Reprodução.

O Brasil, um dos maiores produtores de commodities do mundo, tem suas vastas áreas agrícolas dominadas por cultivos como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar. No entanto, a utilização de agrotóxicos para garantir a produtividade dessas lavouras representa uma grave ameaça à saúde pública. Nesse contexto, para entender mais profundamente os impactos da exposição aos agrotóxicos na saúde humana, com foco especial na saúde reprodutiva, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) publicaram o Dossiê Danos dos Agrotóxicos na Saúde Reprodutiva – conhecer e agir em defesa da vida, resultado da colaboração de 45 pesquisadores de diversas universidades e institutos brasileiros. 

O dossiê destaca que os agrotóxicos são associados a uma série de problemas reprodutivos, como malformações congênitas, abortos espontâneos, prematuridade e baixo peso ao nascer. Além disso, os agrotóxicos são considerados desreguladores endócrinos, mutagênicos, teratogênicos e carcinogênicos, afetando não apenas os trabalhadores do campo, mas também as populações que vivem em áreas próximas às lavouras.

E as formas de exposição são diversas, seja por contato direto com os produtos químicos no trabalho rural, consumo de alimentos e água contaminados, contaminação do ambiente por pulverizações aéreas ou resíduos de embalagens. Além disso, a exposição aos agrotóxicos também afeta de forma desproporcional as mulheres, que acumulam em seus corpos resíduos dessas substâncias, como evidenciado por resíduos encontrados no leite materno e no cordão umbilical.

O documento aponta que a exposição aos agrotóxicos apresenta um recorte de gênero, com as mulheres sendo as mais impactadas, principalmente em regiões agrícolas de grande produção. As revisões científicas realizadas para compor o dossiê confirmam a correlação entre o uso de agrotóxicos e o aumento de problemas de saúde reprodutiva, incluindo malformações e abortos espontâneos. Além disso, as populações indígenas e outros grupos vulneráveis, como quilombolas e ribeirinhos, enfrentam uma exposição ainda mais intensa, com relatos de contaminação das águas e do solo, bem como de doenças relacionadas aos agrotóxicos.

Para a integrante do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) e do Grupo da Terra do Ministério da Saúde, Noemi Krefta, o dossiê traz a tona questões que as mulheres camponesas vêm abordando há muito tempo, “seja no nosso trabalho ou enquanto organização, e com a contribuição de cada uma das pesquisadoras e pesquisadores, a publicação vem fortalecer nossa luta em defesa da vida, seja das mulheres, seja do planeta com sua biodiversidade, pois entendemos que todo veneno foi feito para matar e nós queremos viver e com direito a vida com saúde”, ressalta.

REGULAÇÃO

O estudo também evidencia que as condições sociais e a falta de uma regulação eficaz contribuem para ampliar a exposição, gerando um ciclo de vulnerabilidade. A destruição de territórios indígenas e a grilagem de terras agravam ainda mais a situação, com empresas do setor agropecuário expandindo suas operações para áreas indígenas e colocando em risco a saúde de comunidades já fragilizadas.

O dossiê, além de apresentar uma análise dos impactos dos agrotóxicos, chama a atenção para a omissão das autoridades públicas na regulamentação do uso dessas substâncias. A falta de políticas eficazes, como a implementação do Pronara (Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos), e a aprovação de projetos como o Pacote do Veneno potencializam os riscos, permitindo a contínua liberação de agrotóxicos prejudiciais à saúde. Assim, em um contexto de escassez de políticas públicas eficazes e de uma constante pressão do agronegócio, a saúde de milhares de brasileiros está em risco, sendo constantemente envenenada. Por fim, o dossiê destaca a urgência em estabelecer medidas rigorosas de controle e regulamentação para mitigar os danos à saúde e ao meio ambiente, priorizando a vida humana e a proteção dos ecossistemas em todo o país.

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