Por Bianca Eilfel l Brasil de Fato DF – publicado em 13 de março de 2025.

O segundo dia da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra de 2025 foi marcado por uma série de atos em todo o país. No Distrito Federal, as mulheres do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) reunidas no Acampamento 8 de Março, em Planaltina (DF), organizaram um café da manhã agroecológico e uma ‘roçada pela vida’, com o plantio de árvores do Cerrado.
O ato relembrou o sofrimento das famílias acampadas com o agrotóxico que é pulverizado na propriedade vizinha, a Fazenda Toca da Raposa. Em janeiro deste ano, moradores relataram ao Brasil de Fato DF que várias pessoas, inclusive idosos, crianças e gestantes, sentiram dores de cabeça, enjoo, tontura e ardência e coceira na boca e garganta após uma noite de pulverização de produtos tóxicos a pouco metros do Acampamento. O caso foi denunciado ao Ministério Público por parlamentares, mas até o momento não houve nenhum desdobramento por parte das autoridades.
“Esse grileiro, todos os dias, mata o povo do acampamento Sem Terra pulverizando veneno. Aqui, principalmente mulheres e crianças estão com vários problemas de saúde”, afirmou Edineide Rocha, da direção distrital do MST, durante o encontro desta manhã (13). Edineide narrou a história do Acampamento 8 de Março, que resiste desde 2012, após a quarta tentativa de ocupação do espaço. A princípio mais de 700 famílias acamparam no local. Atualmente, são 83.

A Fazenda Toca da Raposa, localizada às margens da BR 020, em Planaltina (DF), tem mais de 1.700 hectares. De acordo com o processo nº 2012.01.1.031198-2 da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF, Mário Zinato Santos alega ser proprietário de parcela da área. No entanto, o MST afirma que o local é uma terra pública, de propriedade da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap).
Inicialmente, as famílias ocuparam sete hectares da Fazenda. Em 2014, a Terracap fez um acordo em que cercou uma área de apenas três hectares, onde as famílias vivem desde então. O monocultivo de milho e o uso agrotóxicos na Fazenda Toca da Raposa contrastam com o modelo agroecológico, livre de venenos e baseado na policultura, desenvolvido no Acampamento 8 de Março.

Edineide relembrou o nome das 13 pessoas que morreram no local ao longo dos anos de luta pela terra. “E é por isso que nós mulheres Sem Terra vamos continuar aqui cobrando do Estado, dizendo: ‘nós estamos aqui e não vamos desistir, porque nós não somos uma, nós somos milhares, milhares de mulheres, milhares de bandeiras que têm um só objetivo, que é lutar pela reforma agrária’”, prometeu.
Café agroecológico
Diversos políticos, movimentos sociais e do campo, e outras autoridades foram convidadas para o café agroecológico ofertado no Acampamento 8 de Março na manhã desta quinta-feira (13). A deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG) esteve no local. Em sua fala, Xakriabá criticou a redução de impostos sobre agrotóxicos aprovada na reforma tributária e falou da importância da agroecologia no enfrentamento às mudanças climáticas.
“O Marco Temporal teria que ser reconhecido como um crime climático, porque hoje no Brasil é o MST que sustenta as prateleiras do alimento sem veneno, assim como os territórios indígenas representam 20% da solução para barrar a crise climática”, destacou a parlamentar.

Xakriabá prometeu que apresentará, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), a agroecologia feita por mulheres do MST como uma das principais soluções para o clima. A COP30 acontecerá em novembro deste ano em Belém (PA).
Mulheres do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) também participaram do encontro da Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra nesta quinta-feira (13). “São as mãos dos camponeses e das camponesas que asseguram mais de 70% do alimento diverso e agroecológico que chega à mesa do povo brasileiro”, defendeu Denilva Araújo, da direção nacional do MPA. “Estamos passando por um momento complexo, mas entendemos que o desafio só será superado se nós tivermos um território livre, livre das violências, livre dos agrotóxicos, com terra, água, casa, saúde e educação”, completou.

Ceres Hadich, da direção nacional do MST, explicou que em meio à programação da Jornada de Lutas, que se encerra nesta sexta-feira (14), o dia 13 foi escolhido como o dia D, em que diversas ações de denúncia ao agronegócio foram realizadas por todo o país.
Além de relembrar o sofrimento vivido pelos acampados do 8 de Março com a intoxicação por agrotóxicos, as mulheres do MST DF e Entorno também realizaram uma ‘roçada pela vida’, afastando a plantação de milho transgênico que fica a apenas um metro de distância das casas do acampamento. De maneira simbólica, para proteger a integridade e a saúde das famílias acampadas, foi realizado o plantio de árvores do cerrado. As mulheres também fizeram o trancamento da BR 020 para entrega de cestas agroecológicas montadas a partir da produção do acampamento.

“Hoje, companheiras, é um dia de luta. E nós vamos mostrar que nós temos povo, que nós temos lado, que nós temos coragem de enfrentar esse projeto de morte, que nos envenena, que nos mata, que nos oprime, para construir um projeto que também tem lado e que também tem nome, que é o projeto da agroecologia, que é o projeto da reforma agrária popular. E a gente vai fazer isso plantando árvores e produzindo alimentos saudáveis”, destacou Hadich.