Da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Nesta terça-feira, 11, a Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela vida realizou um debate online denunciando os impactos dos agrotóxicos sobre a vida das mulheres e territórios. Com o lema “Sem veneno e sem violência: mulheres em luta pela vida!”, a atividade buscou dar ênfase nas violências sistemáticas que o agronegócio produz impactando diretamente os corpos das mulheres, se manifestando assim como mais uma face que estrutura o patriarcado e o capitalismo no campo.
Durante o espaço ficou evidente o papel que as mulheres cumprem na produção e reprodução da vida e na luta por transformações sociais em nosso país. Uma vez que, são muitas e estão em diversos espaços e territórios, mulheres dos quilombos e aldeias, mulheres do campo e da cidade, das florestas, dos manguezais, das marés, travando essa luta histórica pela vida e pelo bem viver.

A pesquisadora em Sistemas Agrícolas Tradicionais, Racismo e Sistemas Alimentares, Impactos dos Agrotóxicos na saúde e meio ambiente, integrante da Conaq e da Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida, Fran Paula, abriu o debate reforçando a importância de reflexão sobre a trajetória das lutas dos povos e das mulheres para entender como chegamos até aqui? Pois esse processo nos permite como elas são difíceis, mas só é dessa forma porque estamos em meio a uma disputa de poder pelo domínio da terra, dos corpos, dos territórios e isso nos coloca mais uma vez em um lugar central de mudanças diante da ganância dos homens.
“Nós viramos o mundo de cabeça para baixo quando nós mulheres denunciamos os impactos dos agrotóxicos. Mas, nós também colocamos o mundo no lugar certo, quando anunciamos a agroecologia, o bem viver, as práticas de cura e cuidados ancestrais, produz alimentos saudáveis, defende a soberania e segurança alimentar”, afirmou.
Mudar o ponto de vista que se olha parece cada vez uma necessidade para que não se esmoreça na luta. Não é sobre suavizar os conflitos a que estamos submetidos, porém, as estratégias e conquistas que os povos deste país obteve até agora na luta contra os agrotóxicos, só foi possível porque atuamos de forma correta e no momento certo.
Lançamento Dossiê Danos dos Agrotóxicos na Saúde Reprodutiva
A atividade também contou com o lançamento do “Dossiê Danos dos Agrotóxicos na Saúde Reprodutiva: conhecer e agir em defesa da vida” publicado em 2024, juntamente com o Almanaque Mulheres semeiam a vida, agrotóxicos destroem a saúde reprodutiva e o ambiente. A pesquisa foi realizada com um pequeno financiamento do Centro de Direitos Reprodutivos em articulação com a Abrasco e a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca.

A pesquisadora, bióloga, professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, integrante da Rede Interseccional de Saúde e Agrotóxicos, Alexandra Pinho, apresentou em termos gerais a pesquisa para realização do Dossiê, onde fizeram uma grande revisão dos conteúdos que já foram publicados sobre a temática.
“Buscamos entender a diversidade de estudos, estados e instituições dos pesquisadores, a caracterização dos grupos populacionais envolvidos, os modos de exposições aos agrotóxicos, os danos para a saúde reprodutiva. Então, se trata de uma revisão de grande escopo com artigos publicados de 1980 a 2023, somando 43 anos de pesquisas e elaborações”, salientou.
Durante a apresentação ela apontou que no que se refere a grupo populacional, os povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, estes foram completamente invisibilizados. Já em termos de população geral, sobre os danos observados, a maioria estão vinculados à saúde reprodutiva, bem como às mulheres.
“60% dos danos à saúde reprodutiva das mulheres estão nos perinatais, ou seja, nas últimas semanas de gestação e nas primeiras semanas do recém nascido, seguido por danos genéticos, câncer e na concepção gestação”, relatou.
Esses aspectos apresentam os riscos diretos dos agrotóxicos à saúde das mulheres, que vai além do aspecto reprodutivo.
A luta permanente contra os agrotóxicos e pela vida
Jakeline Pivato, da coordenação da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, reforçou que a presença dos agrotóxicos é uma questão que atinge diretamente as mulheres. “Nossa campanha nasceu dessa ânsia e necessidade de denunciar os impactos dos agrotóxicos para a sociedade brasileira. Há 14 anos estamos plantando essa luta, reunindo mais de 60 entidades nacionais e centenas de coletivos regionais que se unem para denunciar os agrotóxicos e anunciar a agroecologia como projeto de vida”, afirmou.

Ela ressaltou que a Campanha tem se desafiado nesses anos a construir métodos de trabalho que cheguem aos territórios, promovam diálogos, fortaleçam redes e incidam nas políticas públicas. “A luta contra os agrotóxicos é também uma luta por informação e conscientização, para que mais mulheres se juntem a essa resistência”.
Jakeline pontuou ainda que a luta contra os agrotóxicos vai além da denúncia das violações, mas é uma luta pela vida, pelos territórios e pela autonomia das mulheres. “As mulheres são protagonistas da resistência e da construção de alternativas a esse modelo cercado e baseado em violência”.
O acesso ao conhecimento sobre os impactos também é uma forma de romper com a cerca da ignorância e permitir que as mulheres e toda a comunidade compreenda como suas vidas são diretamente impactadas por esse processo. Assim, a Campanha organizou um Guia de oficinas mulheres pela vida e contra os agrotóxicos para que possam realizar atividades de debates formativos ao longo deste mês de março e durante todo o ano, promovendo informação e mobilização nos territórios.
Além disso, também disponibilizamos identidades visuais para serem usadas como lambes e também em stencil nos lenços durante a jornada de luta das mulheres.