Em série de cinco dias de reportagens, Zero Hora e RBS TV comprovaram como a maior central de distribuição de verduras e frutas do Rio Grande do Sul, a Ceasa, vendia alimentos com resíduos de pesticidas proibidos, acima do limite permitido ou inadequados para a cultura.
Importante lembrar que a pressão da sociedade civil terá novamente um papel fundamental contra os retrocessos, assim como ocorreu em 2017. Basta lembrar os recuos que o governo federal foi obrigado a fazer por conta da repercussão da redução da Floresta Nacional de Jamanxim e da extinção da Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados), ambas na Amazônia.
Rubens Onofre Nodari, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e colaborador do Instituto Independente de Biossegurança Genok, da Noruega:
"Eu não tenho posição contrária e nem favorável aos transgênicos ou aos CRISPR, não posso ser maniqueísta. O que eu tenho criticado é a forma como tem sido usadas e os produtos obtidos. Os caras estão escolhendo os piores produtos da tecnologia, para vender mais veneno, ou parar criar insetos mais resistentes para eles voltarem a vender mais venenos", ressalta.
Na tentativa de limpar sua imagem, cada vez mais manchada em todo o mundo em meio a processos na Justiça e desvalorização de suas marcas, os fabricantes investem em estudos em parceria com instituições respeitadas.
No Brasil não é diferente. Por aqui, a nata da chamada indústria do veneno se juntou a outros setores do agronegócio e a sindicatos patronais, criando a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A).
Entre os produtos comercializados estão: macaxeira, batata doce, cará, coentro, alface, pimenta, milho verde, banana, maracujá e goiaba.
Na avaliação de especialistas que falaram à reportagem na condição de anonimato, o edital conjunto expõe a mistura de objetivos e interesses públicos e privados, podendo favorecer o setor empresarial, que deveria estar sendo regulado. Assinam a chamada pública o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A), formada por entidades sindicais patronais, como de produtores de soja, milho e algodão, e indústrias de agrotóxicos, como a Bayer, Basf e Syngenta.
Uma nova norma sancionada pelo Governo de Pernambuco torna mais rigorosas as penalidades para quem cometer infrações contra a fiscalização agropecuária. A lei número 16.235, de 14 de dezembro deste ano, aumenta o valor das multas, que ficaram 15 anos sem reajuste. Com isso, a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária (Adagro) vai endurecer com quem desrespeitar as práticas legais que envolvem agrotóxicos, que representam 90% das punições financeiras aplicadas.
Vejam os infográficos preparados pelo Brasil de Fato!
Os dados apresentam os números do uso dos defensivos aqui e na Europa. Além disso, traz os dados da utilização dos agrotóxicos e seus efeitos por região no Brasil.
"Das 141 espécies de plantas cultivadas no Brasil, aproximadamente 85 delas dependem em certo grau da polinização animal e 80% desse trabalho é realizado pelas abelhas", afirmou a bióloga e professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Generosa Sousa Ribeiro.
Para o educador popular da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, Lourenço Bezerra, do Programa Amazônia, o projeto prejudica práticas ancestrais: “Com essas sementes, o agricultor tradicional não precisa utilizar fertilizantes sintéticos e não precisa utilizar os defensivos agrícolas, que são os agrotóxicos, que eles chamam de defensivos agrícolas".
“Estas feiras são muito importantes porque nos incentivam e, com isso, dá vontade de trabalhar cada vez mais”, disse o agricultor familiar quilombola, Geraldo Gomes.
O projeto proibe o uso de agrotóxicos, sob qualquer tipo de mecanismo ou técnica de aplicação, nas proximidades de moradias, escolas, recursos hídricos, áreas ambientalmente protegidas e áreas de produção agrícola orgânica ou agroecológica.
Em pouco mais de um mês, a UE aplicará limites mais restritivos ao comércio de alimentos que utilizam Tiabendazol, um produto químico pós-colheita que visa proteger a fruta contra doenças causadas por fungos, reduzindo o nível de descarte. A medida atingirá a manga produzida no Brasil e também no Peru, assim como a batata doce da Carolina do Norte (EUA).
Além disso, se engana quem pensa que o manuseio de agrotóxicos e inseticidas causa apenas náuseas, vômitos e cefaleia, como é divulgado. É pior: a exposição a esses tipos de substância também pode causar surdez.
O documento destaca o fato de que o PL, de iniciativa popular, que contou com 2.680 assinaturas da população e foi aprovado por unanimidade pela Câmara, “trouxe consigo a mais cruel face do agronegócio no Brasil: ameaças à vida e ao bem estar dos envolvidos no combate aos agrotóxicos”.