Nova edição do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) foi divulgada nesta quarta (6). Resultados mostram que maioria dos alimentos possui pelo menos um tipo de agrotóxico; riscos para crianças são ignorados.
Nota da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Sem publicar resultados desde 2019, a Anvisa retomou nesta semana a divulgação do PARA – Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, sua principal ação de monitoramento dos agrotóxicos nos alimentos. O relatório foi dividido em duas partes: um conjunto de amostras coletadas em 2018 e 2019, e outro conjunto coletado em 2022. O fato aponta que o governo Bolsonaro escondeu os dados deliberamente, já que as amostras foram coletadas durante seu governo, mas os resultados estão vindo à tona apenas agora.
Foram analisados os seguintes alimentos: Abobrinha, aveia, banana, cebola, couve, laranja, maçã, mamão, milho, pepino, pera, soja, trigo e uva (2018 e 2019); e amendoim, batata, brócolis, café em pó, laranja, feijão, farinha de mandioca, maracujá, morango, pimentão, quiabo, repolho e farinha de trigo (2022).
Como esperado, a maioria das amostras analisadas (67% e 59%) a apresentou algum tipo de agrotóxico detectado. No total, em 47% das amostras foi detectado mais de um agrotóxico. Em 119 casos foram encontrados 10 agrotóxicos ou mais na mesma amostra.
Ainda assim, a Anvisa busca minizar os achados utilizando o conceito de Risco Agudo, segundo o qual apenas 0,55% ou 0,17% das amostras teriam chances de causar uma intoxicação aguda em quem as consumisse. Ora, ainda que isto seja verdade, estamos falando que um em cada 180 alimentos comprados no mercado podem causar uma intoxicação aguda no consumidor, logo nas primeiras 24 horas após a ingestão.
Outro problema grave: dos dez agrotóxicos mais detectados em 2018-2019, 4 são proibidos na União Europeia: Mancozebe, Carbendazim, Bifentrina e Imidacloprido. Já em 2022 a situação é mais dramática: 6 dos dez mais detectadas são proibidos na Europa. Além dos 4 já citados, incluem-se aí o Acefato e a Procimidona.
A Anvisa conclui seu relatório informando que “os alimentos consumidos no Brasil são seguros quanto aos potenciais riscos de intoxicação aguda e crônica advindos da exposição dietética a resíduos de agrotóxicos”, mesmo reconhecendo, no próprio relatório, as limitações e incertezas do processo regulatório. Esta conclusão, além de ignorar os fatores citados anteriormente, ignoram completamente a população de crianças menores de 10 anos, para as quais os métodos utilizados pela Anvisa para avaliação do risco agudo e crônico não se aplicam.
Nesta idade, crianças tem um maior consumo de alimentos em relação ao seu peso corporal, e estão em pleno desenvolvimento neurológico, hormonal, metabólico e imunológico.
Simplesmente não faz sentido que o uso de agrotóxicos no Brasil aumente ano a ano, que faturamento da indústria de agrotóxicos só cresça, e os alimentos continuem “seguros”. A Anvisa precisa ser honesta e transparente com a população, e contribuir para resolver o problema, e não para escondê-lo.