
Partiu hoje, aos 75 anos, o cineasta Silvio Tendler. Sua trajetória comprometida com as lutas da classe trabalhadora lhe rendeu não só prêmios e homenagens, mas principalmente o reconhecimento dos movimentos sociais como um grande parceiro em várias lutas.
A história da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida é indissociável da figura de Silvio Tendler. Ainda antes do lançamento oficial da Campanha, em 2010, Silvio topou o desafio de fazer um filme que conseguisse comunicar o grave problema dos agrotóxicos para o grande público. Com pouquíssimos recursos – R$50 mil, mas muita disposição, Silvio e sua equipe trabalharam em estreita parceria com a Campanha, construindo de forma coletiva o roteiro, entrevistas e montagem final do filme. Nas viagens pelo Brasil da equipe foram organizadas junto à Campanha e ao MST, que viabilizou os contatos e a própria logística da produção.
A Campanha Contra os Agrotóxicos foi oficialmente lançada em 7 de abril de 2011, e o filme em 25 de julho do mesmo ano. O impacto foi muito além do esperado: num cenário prévio à facilidade das plataformas de streaming e internet de alta velocidade, a distribuição foi realizada pela militância da Campanha, com DVDs que eram repassados para os estados e regiões. As exibições aconteciam em acampamentos, igrejas, praças, eventos, comunidades, onde quer houvesse possibilidade.

Mesmo já com dificuldades de locomoção à época, Silvio participou de várias dessas exibições. Em suas falas, sempre com muita humildade, ressaltava o trabalho dos movimentos sociais, se colocando no papel de mero mediador. Mas ele foi muito mais do que isso.
Em entrevista realizada em 2014, ele afirma:
Eu sou um parceiro dos movimentos dispostos a mudar a vida. O meu cinema é um cinema político. Eu fui acusado disso durante muito tempo, até passar essa onda das pessoas gritando que o cinema não podia ser político, que cinema político não atingia ninguém, que ninguém via, ninguém gostava.
Três anos após o lançamento do filme, a Campanha renovou a parceria com Silvio na produção da continuação do documento – O Veneno Está na Mesa 2. Esta produção partiu da percepção de que era preciso falar mais sobre agroecologia e as alternativas:
Um terço do filme, que mostra os problemas, que só se agudizaram do primeiro Veneno para cá. Hoje você tem entidades científicas da maior responsabilidade que não hesitam em afirmar que existem elementos cancerígenos fortes nos agrotóxicos. Antes nós tivemos essa dificuldade, poucas pessoas tiveram a coragem de dizer. Ao mesmo tempo dois terços do filme mostra pessoas, comunidades, sob as mais diversas formas, que lutam para preservar a natureza, garantir o alimento, o sustento de todo mundo, com qualidade de vida.
O segundo filme foi igualmente um sucesso, que contribuiu ainda mais para ampliar o debate sobre agrotóxicos entre a sociedade.
Os filmes de Silvio Tendler, muito mais do que um marco para a Campanha em si – da sua própria gênese – são feitos históricos na árdua tarefa de levar um tema tão complexo para o grande público. Não é exagero dizer que este filme mudou o patamar de conhecimento da população brasileira sobre o tema. Não por acaso, pesquisa DataFolha de 2019 indicou que 78% dos brasileiros achavam que o consumo de alimentos com agrotóxicos prejudica a saúde, e outros 72% acreditavam que os alimentos produzidos no Brasil têm mais agrotóxicos do que deveriam.
Certamente, antes da divulgação destes filmes, não havia tamanha atenção da sociedade para o tema.
Celebraremos daqui em diante o legado de Silvio Tendler para a Campanha, para a luta contra os agrotóxicos, e principalmente, para as lutas da classe trabalhadora contra a opressão do sistema capitalista.
Silvio Tendler: presente, presente, presente!
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