19 de março, 2013
Há uma semana foi inaugurada, no distrito de irrigação Nilo Coelho, em Petrolina, a 36ª unidade de pesquisa e tecnologia da Monsanto. A iniciativa, enaltecida por autoridades locais, secretários estaduais e ministro de Estado, precisa ser esclarecida à opinião pública a fim de demonstrar os interesses na instalação de uma empresa transnacional que lidera a produção de herbicida glifosato (veneno agrícola) e sementes transgênicas.
Como é recorrente nessas ocasiões, a justificativa da Monsanto para escolher o Sertão do São Francisco se deve a aspectos naturais: o clima, que permite até três colheitas anuais de milho transgênico pode acelerar o processo de desenvolvimento de novas tecnologias para ampliar às culturas de soja, algodão e cana de açúcar. Mas, qual é o custo social, cultural e ambiental associado a esse tipo de atuação?
Comprovadamente, a Monsanto é o símbolo atual do controle sobre os alimentos e a agricultura. O lucro líquido da empresa no primeiro trimestre fiscal foi de 339 milhões de dólares, 196% a mais do que no mesmo período do ano passado. A cobrança de royalties a agricultores/as pelas sementes transgênicas por ela patenteadas revela a subordinação agrícola aos interesses do capital financeiro.
Além de ser proibido/a de replantar, comercializar, trocar ou passar a semente adiante, o/a agricultor/a que não comprar semente transgênica corre o risco de ter sua lavoura contaminada geneticamente. As consequências culturais são catastróficas. Estamos numa região em que, tradicionalmente, as sementes são guardadas e vão sendo adaptadas e melhoradas pelos/as camponeses/as ao longo do tempo. Violar ou proibir a reprodução destas variedades é roubar a nossa herança cultural agrícola.
Em termos ambientais, os dados são alarmantes: 80% de todas as terras cultivadas são utilizadas apenas no monocultivo da soja/milho, cana de açúcar, algodão e na pecuária extensiva. Isso tem gerado um desequilíbrio da biodiversidade na natureza, que se agrava com aplicação dos venenos agrícolas.
Na saúde humana e animal, os efeitos são devastadores. Os venenos não se degradam na natureza. Matam os insetos, as bactérias, afetam a fertilidade, contaminam as águas subterrâneas e os alimentos que as pessoas consomem. Geram todo tipo de distúrbio, desregulação endócrina, contaminação do leite materno e tem potencial carcinogênico (câncer). Desde 2009, o Brasil é o maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Consumimos 20% de todos os venenos, grande parte destes produzidos pela Monsanto.
Portanto, nós, sociedade civil organizada do Sertão do São Francisco que construímos a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, repudiamos a chegada dessa empresa em nossa região. Acreditamos que seria muito mais prudente aos governos municipais, estaduais e federal incentivar iniciativas que partem da realidade ambiental e climática das comunidades rurais, com base no respeito aos saberes locais, garantia de emprego e renda, distribuição de riquezas, preservação ambiental e permanência em seus territórios.
Reafirmamos nosso compromisso de continuar na luta em defesa da agroecologia e das diversas organizações sociais que fortalecem dia a dia a soberania alimentar e o poder popular no semiárido brasileiro.
Sertão do São Francisco, 18 de março de 2013
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida