Fome atinge uma em cada sete pessoas e desnutrição mata 20 mil crianças com menos de 5 anos por dia. Agricultura camponesa, que no Brasil produz 70% dos alimentos, só consegue acessar 14% dos créditos
Celebrado no dia 5 junho, o Dia Mundial do Meio Ambiente é um importante momento para refletirmos sobre os impactos da ação humana sobre a natureza. Neste ano, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) chamou a atenção da data para discutir a questão do desperdício de alimentos no mundo.
De acordo com a FAO, 1,3 bilhão de toneladas de comida são jogadas fora por ano. A fome atinge uma em cada sete pessoas e, em consequência da desnutrição, mais de 20 mil crianças com menos de 5 anos morrem todos os dias.
A Organização das Nações Unidas (ONU) destaca o desperdício de alimentos como um enorme consumidor de recursos naturais e colaborador dos impactos negativos no meio ambiente.
Para debater os danos causados ao meio ambiente e pensar formas de preservação, a Radioagência NP entrevistou o coordenador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Cléber Folgado. Ele afirma que é preciso repensar o próprio modelo de produção agrícola adotado a nível mundial, e ressalta que um dos “grandes vilões em relação à situação que se encontra o meio ambiente é o agronegócio”.
Radioagência NP: O desperdício de alimentos é o ponto central na questão da preservação do meio ambiente, como sugere a FAO?
Cléber Folgado: A gente tem que discutir o que é alimento. Por exemplo, um dos grandes vilões em relação à situação em que se encontra o meio ambiente é o agronegócio, que é um modelo voltado à produção de monocultivo, em larga escala, para exportação, com utilização de maquinário pesado, com o uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos, que também degradam a terra e o meio ambiente no seu conjunto. Então, quando a gente discute essa questão da alimentação automaticamente tem uma ideia de jogar e fazer essa relação com a produção do agronegócio, o que é um equívoco. Por isso, que eu coloco que é importante a gente discutir o que é alimento. Hoje o agronegócio brasileiro, e não é diferente nas outras partes do mundo, esse modelo, esse pacote, é voltado para a produção de commodities, produção de soja em larga escala, produção de cana para produção de etanol para garantir tanque [dos automóveis] cheio.
Radioagência NP: A agroecologia é uma alternativa para produção de alimentos e defesa do meio ambiente?
CF: Quando a gente fala de alimentos não estamos falando dessa produção que o agronegócio faz. A gente está falando dessa produção que é feita hoje principalmente pela agricultura camponesa, que só no caso do Brasil produz 70% dos alimentos, só consegue acessar 14% dos créditos, está em 24% das terras agricultáveis do país. Com uma quantidade de recursos e impactos muito menor consegue produzir uma quantidade alimentos de fato muito maior do que a produção feita pelo agronegócio. É importante a gente perceber que a gente precisa de fato discutir o modelo de agricultura que é adotado hoje a nível mundial, o modelo capitalista de produzir porque esse é o modelo que está fadado ao fracasso. Quando eu falo ao fracasso não é o seu fracasso do ponto de vista econômico, mas é o fracasso da humanidade do ponto de vista de destruição desses recursos que não são renováveis. Hoje a gente vê em várias regiões do mundo um processo de desertificação do solo, da terra, que estão deixando de ser produtivos independente da quantidade de insumos que ou fertilizantes que vão ser postos nele. Então, a gente precisa rediscutir o paradigma de agricultura, que para nós da Campanha, do MPA, da Via Campesina está baseado na produção agroecológica.
Radioagência NP: E qual a importância da luta contra o uso dos agrotóxicos como própria forma de defesa e preservação do meio ambiente?
CF: Ela é central. Primeiro porque os agrotóxicos – é importante a gente olhar o contexto histórico – já surgem como um produto de guerra. Os agrotóxicos são na verdade um complexo industrial bélico e estoque de produção bélica que havia na época com o fim da 2ª Guerra Mundial, que foram adaptados e transformados em insumos para a agricultura. De modo que esse “pacotão” que foi chamado de Revolução Verde já no seu início começa afetando o meio ambiente porque na sua essência ele já é biocida, ou seja, ele é produzido para morte e não para promover a vida. E hoje o Brasil, desde 2008, na verdade, é o maior consumidor de agrotóxico do mundo. São cerca de 5,2 litros de agrotóxico por pessoa no Brasil.
Então, os agrotóxicos na sua essência são nefastos ao meio ambiente e às pessoas também, pois causam doenças crônicas, agudas. E se a gente olha para o meio ambiente como esse grande conjunto de plantas, animais, que devem conviver de forma harmônica com o ser humano esse processo é possível. Agora jamais será possível com a utilização de agrotóxicos.
De São Paulo, da Radioagência NP, Daniele Silveira.
10/06/13