Monsanto é acusada de ‘fichar’ ilegalmente nomes de personalidades francesas para ajudar na defesa de pesticidas
por Mariana Lemos e Marina Rara
A Monsanto, atualmente de propriedade da empresa química alemã Bayer, teria reunido dados privados de mais de 200 nomes de jornalistas, parlamentares, líderes de organizações públicas e cientistas para influenciar as posições deles sobre os pesticidas, principalmente o glifosato. A revelação aconteceu na última quinta-feira, 9 de maio, pelo Le Monde e outros veículos franceses.
O documento foi produzido em 2016, sob encomenda da Monsanto, pela agência de comunicação norte-americana FleishmanHillard e foi vazado para o jornal. Além de registros de informações pessoais das personalidades, o dossiê também classifica os principais atores do debate sobre os pesticidas na França em função de seu grau de influência com uma divisão de categorias: “aliados”; “potenciais aliados para recrutar”; “a educar” e “a vigiar”.
“Isso mostra os métodos dos lobistas. Eles espionam, se infiltram e influenciam, certamente até de forma financeira”, declarou a ex-ministra francesa do Meio Ambiente, Ségolène Royal. Ela é um dos nomes na lista e, em razão de sua oposição ao glifosato, era classificada como pessoa “a vigiar”.
O Le Monde, que também teve um de seus repórteres catalogado, já lançou um processo contra a Monsanto. Após a queixa e revelação do jornal a própria procuradoria da França abriu um inquérito nesta sexta-feira, dia 10 de maio, para investigar a denúncia. O código penal francês proíbe a constituição de qualquer base de dados pessoal “revelando as opiniões políticas e filosóficas de uma pessoa sem o seu consentimento”.
“Este documento é mais uma prova de que o lobby das empresas multinacionais fará de tudo para proteger seus negócios e se acreditam acima das regras. Nós estamos presos. Este é um uso fraudulento dos nossos dados pessoais. É escandaloso”, divulgou a ONG Foodwatch, que se opõe aos herbicidas, está na lista da Monsanto e também vai dar queixa contra os métodos da empresa.
Neste sábado, 11 de maio, a Bayer lançou um comunicado que afirma não tolerar “comportamento antiético”, mas irá contratar um escritório de advocacia para investigar o caso e as afirmações divulgadas e colocou a possibilidade da prática ilegal ter sido implementada a nível mundial. A agência Fleishman Hillard informou que irá investigar as afirmações do jornal Le Monde.
O glifosato
Na época da produção do dossiê, a Monsanto buscava a nível europeu a renovação da autorização do glifosato, o ingrediente ativo do Roundup, que é a herbicida mais usada no mundo e considerado um “provável cancerígeno” desde 2015 pelo Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer, uma agência da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, o glifosato é o agrotóxico mais utilizado na agricultura. A Anvisa iniciou a reavaliação do produto em 2008, e abriu em fevereiro deste ano uma consulta pública para avaliação do relatório final. De acordo com o documento, o produto deverá ser mantido no mercado com algumas restrições.
Com informações do Le Monde