Rede pela Transição Agroecológica surgiu durante a pandemia de covid-19 faz campanha para expandir atividades
Por Daniel Lamir, no Brasil de Fato
Como a agroecologia pode entrar na luta pelo direito à cidade? O acesso à água, por exemplo, é elemento chave para garantir atividades de agricultura urbana como compostagem, plantio em hortas familiares e comunitárias e organização de feiras orgânicas.
Alguns desses dilemas estão sendo encarados por quem faz parte da Rede pela Transição Agroecológica, que atua na Região Metropolitana do Recife. O coletivo surgiu em plena pandemia de covid-19, na perspectiva de um “novo normal” que inclui a agroecologia.
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A primeira semente de experiência da Rede foi germinada na Comunidade de Passarinho, na Zona Norte da capital pernambucana.
A comunidade de Passarinho conquistou o acesso a projetos de agricultura urbana há alguns anos / Acervo: Rede pela Transição Agroecológica
O projeto Mulheres e Soberania Alimentar em Tempos de Pandemia foi tocado em parceria com Grupo Espaço Mulher, durante seis meses, em um período de agravamento das dificuldades no local.
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Edcléia Santos, moradora de Passarinho, conta que a perspectiva agroecológica do projeto favoreceu a segurança alimentar na comunidade, que historicamente se organiza na luta pelo direito à cidade.
“As mulheres daqui [comunidade de Passarinho], em sua maioria, perderam seus empregos porque são empregadas domésticas, diaristas e cuidadoras de idosos. Foram as primeiras que perderam os seus empregos. E disso aí o que vem primeiro é a fome. E são essas mulheres que são chefes de família, quem cuidam da família”, explica Edcleia, do Grupo Espaço Mulher.
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Além da segurança alimentar favorecida pelo plantio de frutas, hortaliças e raízes, Edcléia destaca ainda as possibilidades de favorecimento de geração de renda e terapia para muitos casos de depressão e isolamento das mulheres.
De uma forma geral, vinte mulheres participaram do projeto, que teve apoio do Fundo Casa Socioambiental. O processo juntou intercâmbios, plantios, oficinas, articulação com outras comunidades e elaboração de uma cartilha agroecológica.
A bombona é capaz de armazenar água para o plantio e possui estruturação para evitar a contaminação por mosquistos ou outros insetos / Acervo: Rede pela Transição Agroecológica
A segurança hídrica para o plantio foi um dos principais focos do projeto, que distribuiu as chamadas bombonas de 200 litros, capazes de captar e armazenar água de forma segura e sustentável.
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Geovana de Oliveira é bióloga e técnica em agroecologia. Ela faz parte da Rede e lembra que as mulheres participantes defendiam o projeto para além dos limites de Passarinho.
“Elas são tão generosas que a partir desse projeto logo queriam que a gente expandisse esse projeto Mulheres e Soberania Alimentar para outras comunidades”, ressalta.
Quintal da casa de Vilma, no bairro de Passarinho, no Recife (PE), recebe visita para troca de experiências. / Foto: Emanuela Marinho/Casa da Mulher do Nordeste
Passo seguinte
Os sonhos das mulheres de Passarinho estão ganhando forma através de articulação com outros coletivos comunitários e pela campanha de financiamento que está aberta na internet.
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É assim que a Rede pela Transição Agroecológica está se organizando para permanecer atuando na agricultura urbana agroecológica em outros nove bairros do Grande Recife.
Ianah Maia é técnica em agroecologia e artista visual. Ela faz parte da Rede pela Transição Agroecológica e explica a utilização dos recursos que serão captados com a vaquinha virtual.
“Para estruturar minimamente os kits agroecológicos de ferramentas, mudas, sementes, sistema de compostagem, sistema de captação de água da chuva, assistência técnica agroecológica durante a execução do projeto, as cartilhas agroecológicas. Tudo isso são coisas que a gente vai estar entregando e ajudando a construir esse conhecimento junto com esses coletivos dessas comunidades”, detalha.
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A população que vive da pesca tradicional no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife, está nos planos do novo projeto da Rede, intitulado como Comunidades Agroecológicas nas Cidades.
Pedro Pirrita é morador do Pina. Assim como as mulheres de Passarinho, ele destaca que o bairro sofre com o abastecimento irregular de água.
“É importante ter um abastecimento de água para manter a agroecologia. Seria transformador na vida dessas famílias um programa agroecológico, com a distribuição de kits agroecológicos. E é uma formação, porque aprendemos a produzir a tecnologia agroecológica e ajudar a complementar muita coisa que falta para essas famílias”, avalia.
O Brasil de Fato entrou em contato com a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) para saber sobre o abastecimento em diferentes bairros da Região Metropolitana, mas até o fechamento desta reportagem não houve resposta.
Edição: Douglas Matos