A Assembleia Legislativa do Ceará promove hoje (21 de maio) audiência pública para discutir a violência no campo e a impunidade nos dois anos do assassinato do líder comunitário e ambientalista Zé Maria do Tomé, em Limoeiro do Norte. A discussão acontece na Comissão de Educação da Assembleia e faz parte das reivindicações do Movimento 21, que reúne associações, sindicatos, grupos de pesquisa e trabalhadores rurais. “A violência no campo e o direito de lutar pela vida – dois anos do assassinato de Zé Maria do Tomé” é o tema da audiência.
Motivados pelo clima de impunidade e pela falta de uma legislação rigorosa que preserve o meio ambiente e saúde humana, movimentos sociais colocarão para os deputados estaduais o problema da concentração fundiária e das lutas sociais na zona rural do Ceará.
O embate contra os agrotóxicos – bandeira levantada por José Maria Filho, o Zé Maria do Tomé, é apenas um deles. Mas é um dos principais problemas a colocar o Ceará na lista de Estados com violência no Campo. José Maria foi morto em 21 de abril de 2010 a caminho de sua casa, na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte. O agricultor e comerciante denunciava o abuso de agrotóxicos na região onde morava, onde ocorre a pulverização aérea em grandes produções agrícolas para exportação. Já foram diagnosticados casos de famílias e de trabalhadores rurais contaminados por agrotóxicos. As investigações de duas mortes de trabalhadores de grandes empresas agrícolas são acompanhadas até pelo Ministério da Saúde.
Porém a realidade pouco mudou desde a morte de Zé Maria. O que ele mais combatia, a pulverização aérea, voltou a ser aprovada pela Câmara Municipal de Limoeiro. A primeira discussão sobre a morte de Zé Maria do Tomé na Assembleia legislativa ocorreu no mesmo ano de 2010. Mas a reunião para tratar “os efeitos dos agrotóxicos na população” não foi requerida nem pela comissão de saúde nem a de meio ambiente, mas pelas comissões de Juventude e de Educação. A que será realizada hoje foi requerida pela Comissão de Educação, presidida pela deputada Raquel Marques. Trabalhos de cientistas das Universidades Federal do Ceará (UFC), Estadual do Ceará (Uece), com apoio do CNPq e da Universidade de Brasília, identificaram fortes impactos dos agrotóxicos nos trabalhadores e nas comunidades próxima aos perímetros irrigados, notadamente ocupados por grandes produtoras agrícolas.
A Cogerh encontrou resíduos de agrotóxicos em poços subterrâneos. Amostras de água contaminada também foram colhidas pela UFC.
Fonte: Diário do Nordeste