Relatório da CPT denuncia aumento dos conflitos no campo e violações contra comunidades por uso de agrotóxicos

Por André Gouveia e Roberta Quintino l Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

Lançamento da 38ª edição do Caderno Conflitos no Campo Brasil  da Comissão Pastoral da Terra. l Foto: André Gouveia.

Em 2022 foram contabilizados 1.572 registros de conflitos por terra no Brasil. Esse e outros dados alarmantes fazem parte da 38º edição do relatório “Conflitos no Campo Brasil 2022” lançado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), nesta segunda (17), na Universidade de Brasília (UnB). O documento aponta que 46 camponeses foram assassinados no período, aumento de 123% em comparação à 2020.

O relatório traz um apanhado sobre os diversos conflitos do campo e apresenta dados de pessoas resgatadas em condições de trabalho análogas à escravidão, pistolagem, famílias despejadas, grilagem e contaminação por agrotóxicos e aponta o agronegócio como principal responsável pelas práticas criminosas.

O levantamento apresenta importantes informações sobre a realidade das comunidades rurais e mostra uma escalada de violências no campo, tendo a região Amazônica como um foco dos conflitos, além do crescimento dos ataques às populações indígenas.

Os dados dos conflitos no campo, que abrangem informações dos conflitos por terra, por água e trabalhistas, são registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da Comissão Pastoral da Terra.

O documento informa que foram contabilizados 1.572 registros de conflitos por terra no Brasil. l Foto: André Gouveia.

A data escolhida para o lançamento do relatório é marcada pela memória e luta dos trabalhadores do campo. No dia 17 de abril 1996, um massacre da polícia, em Eldorado dos Carajás, localizado no sudeste do Pará, deixou 21 trabalhadores Sem Terra mortos.

Arma química contra povos e comunidades

A publicação aponta que os agrotóxicos impactaram 6.831 famílias em conflitos por terra no Brasil em 2022, um aumento de 86% em comparação com 2021 e o maior registrado pela CPT desde 2010, quando esse tipo de violência passou a ser apurada pelo Centro de Documentação da Comissão.

As populações afetadas denunciam que o uso criminoso de agrotóxicos tem servido como arma química para expulsá-las do campo, inviabilizando a permanência das famílias na terra, com impacto direto ao direito à alimentação adequada, a água limpa e à saúde.

Um dos casos registrados no relatório ocorreu nas comunidades dos Engenhos Fervedouro e Barro Branco, localizadas no município de Jaqueira, Zona da Mata Sul de Pernambuco. As famílias agricultoras posseiras da localidade já enfrentavam um conflito por terra provocado por empresários pecuaristas quando, em setembro, foram surpreendidas com a pulverização de agrotóxicos, por meio de drones, em suas lavouras. A aplicação do veneno devastou as plantações e contaminou ainda as fontes de água que abastecem os agricultores e agricultoras da comunidade.

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