COP 30 e Cerrado: Ato simbólico na Agrizone denuncia contaminação por agrotóxicos

Por Campanha Nacional em Defesa do Cerrado l Publicado em 20 de novembro de 2025.

Foto: Oliver/Mídia Ninja

Agentes pulverizadores com faixas que mencionam empresas como Bayer e Nestlé integram manifestação pacífica na porta da Agrizone na manhã desta quinta-feira (20). Escanteado do centro dos debates sobre soluções climáticas e das negociações da COP 30, a Conferência das Partes que acontece em Belém (PA), o Cerrado é a pauta da iniciativa a fim de chamar atenção para a contaminação por agrotóxicos que ocorre na região e afeta a saúde de seus povos, a sua sociobiodiversidade e a população brasileira.

As faixas denunciam o uso abusivo de agrotóxicos no Brasil e seus impactos principalmente no Cerrado. Também reivindicam regulação internacional do uso de agrotóxicos, já que diversas substâncias nocivas já proibidas na União Europeia continuam sendo utilizadas no Brasil sem nenhum tipo de restrição. Manifestantes trajados e paramentados com equipamentos de pulverização representam os trabalhadores rurais responsáveis pela aplicação dos produtos químicos nas lavouras – os mais afetados em casos de intoxicação por pesticidas.

Agrizone é a área dedicada ao agronegócio na COP 30 e reúne as principais lideranças do setor. Para funcionar como uma vitrine do agro, o espaço é financiado por grandes empresas como Bayer e Nestlé, além de entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A iniciativa tem o apoio do governo federal por meio da  Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a anfitriã do evento, e mira no debate da chamada Agenda Positiva do Agro 2025, visando influenciar nas negociações climáticas.

agrotoxico destaque site campanha 02

Contaminação no Cerrado

Apenas em 2024 foram registrados 27 casos de contaminação por agrotóxico no Cerrado, sendo 20 ocorrências apenas no Maranhão, conforme aponta o Relatório Conflitos no Campo Brasil, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O Centro de Documentação da CPT entende, porém, que o número real de casos é maior do que o registrado, já que é difícil sistematizar esse tipo de ocorrência em áreas rurais onde há pouca ou nenhuma estrutura de políticas públicas de atendimento e notificação de saúde nas proximidades.

“As grandes monoculturas do agronegócio afetam diretamente as comunidades e os povos do Cerrado na essência de seus modos de vida tradicionais, baseados na produção de alimentos saudáveis e na relação harmônica com as florestas, com as águas e com a biodiversidade. Lutar contra os agrotóxicos é lutar por essas vidas, pelas nossas vidas e pela defesa do Cerrado em pé”, destaca Isolete Wichinieski, coordenadora da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revelam que, em média, são despejados 600 milhões de litros de agrotóxicos anualmente no Cerrado, o que corresponde a mais de 70% do total consumido no país. Dossiê elaborado pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado em parceria com a Fiocruz identificou 9 tipos de agrotóxicos em pesquisa que analisou a qualidade da água em comunidades de 7 estados do Cerrado.

coleta agua 21

Coleta de água contaminada em comunidade do Cerrado no Mato Grosso do Sul, um dos 7 estados participantes da pesquisa “Vivendo em territórios contaminados: Um dossiê sobre agrotóxicos nas águas do Cerrado” (Foto: Bruno Santiago/Campanha Cerrado)

“Na Europa é proibido e no Brasil vale tudo?”

Do ponto de vista global, a principal reivindicação é pela padronização da regulação internacional dos agrotóxicos, como explica Jakeline Pivato, da coordenação da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. “É mais que urgente a necessidade de uma padronização internacional. Hoje, países e corporações do norte global, como a própria União Europeia, possuem legislações restritivas mas vendem substâncias proibidas em seus próprios territórios para nações do Sul, como o Brasil. Dos 10 agrotóxicos mais consumidos em nosso país, sete são banidos na Europa”, relata.

De acordo com levantamento da Agência Pública e da Repórter Brasil, mais de 1.800 agrotóxicos foram aprovados para uso durante o governo Bolsonaro (2019-2022) e cerca de metade desses produtos é proibida na Europa atualmente. A pesquisa também revela que mais de 14 mil pessoas foram intoxicadas por agrotóxicos no Brasil entre janeiro 2019 a março 2022, o que ocasionou 439 mortes neste período.

Apesar da herança catastrófica, pouco ou quase nada foi feito pelo atual governo brasileiro visando a melhora do cenário de contaminação. No dia 11 de novembro, um dia após o início da COP 30, o Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e da Pecuária (Mapa) aprovou 30 novos agrotóxicos que contêm substâncias proibidas na União Europeia.

Entre elas estão azoxistrobina e trifloxistrobina, ligadas a má-formação fetal e danos neurológicos, além de um novo tipo de glifosato, associado a riscos cancerígenos, reprodutivos e hormonais. De acordo com apuração do Brasil de Fato e da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, a lista inclui ainda clocernapir, S-metolacloro, protioconazol e outras substâncias já conhecidas por causar toxicidade a peixes e aves, contaminar águas subterrâneas, gerar resistência de fungos e oferecer riscos diretos à saúde humana. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *