por Yamira Rodrigues (Comitê Laranjeiras do Sul, PR)
O Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos, comemorado no dia 03 de dezembro, marca um dos maiores acidentes químico da história, o Desastre de Bhopal, que ocorreu em 03 de dezembro de 1984 na Índia. Uma fábrica da empresa Union Carbide, de propriedade da Dow Chemical, que produzia um inseticida chamado Sevin foi responsável pelo vazamento de 27 toneladas de isocianato de metila, gás mortal que se espalhou pela cidade expondo cerca de meio milhão de pessoas, das quais 25 mil morreram 100 mil estão com doenças crônicas e outras 30 mil seguem expostas à contaminação.
A data foi estabelecida por 400 organizações de 60 países que compõem a Rede de Ação contra Pesticidas, PAN International – Pesticides Action Network. Somente neste ano a situação do lixo tóxico começa a ser resolvida já que a Sociedade Alemã para Cooperação Internacional irá transportar os resíduos para a Alemanha para que o material seja destruído. A empresa nega a responsabilidade pelo acidente e os resíduos tóxicos continuam abandonados nas antigas instalações da fábrica, sem nenhuma forma de segurança. Além de não ter sido indenizada a população segue exposta à contaminação e ainda não há sinais de como solucionar a descontaminação do solo das instalações da fábrica abandonada e nem dos lençóis freáticos.
A pouca visibilidade sobre esta data e sobre o tema em geral no país parece refletir bem a situação brasileira frente ao problema dos agrotóxicos: o Brasil é desde 2008 o maior consumidor de agrotóxicos no mundo! Mais de 80% do mercado de agrotóxicos no mundo é controlado por apenas seis grandes empresas transnacionais: Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont, DowAgrosciens e Basf. Apenas no ano de 2010, o mercado nacional movimentou cerca de US$ 7,3 bilhões e representou 19% do mercado global de agrotóxicos.
Diante deste cenário em abril de 2011 foi iniciada a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, formada por uma série de organizações da sociedade civil, movimentos sociais, estudantis e sindicais, entidades ambientalistas, além de receber o apoio de grupos de pesquisa ligados à área da saúde. A Campanha tem o objetivo de divulgar e alertar a população brasileira sobre os perigos do uso dos agrotóxicos, a falta de fiscalização no uso, no consumo e na venda, os riscos de contaminação de solos, de águas e de pessoas, desde os trabalhadores rurais que estão submetidos à exposição direta, seja aos consumidores que estão submetidos à contaminação gradual através do consumo de alimentos com resíduos de agrotóxicos.
Além de denunciar os males dos agrotóxicos a Campanha pretende dar visibilidade às alternativas que possibilitam a produção de alimentos saudáveis, impactando o menos possível à natureza através da agroecologia, além de gerar trabalho e renda aos camponeses e camponesas e qualidade de vida às populações urbanas. Além do caráter comunicativo, a Campanha tem ainda o objetivo de construir e ampliar o debate sobre as normas e regulamentações dos agrotóxicos, de forma a pressionar as entidades governamentais e restringir a expansão do mercado e uso de agrotóxicos no país, e fomentar políticas de fomento à agroecologia.
Tendo em vista a dimensão dos desafios impostos podemos concluir que a batalha está apenas começando, ainda há muito a ser feito! A semente da Campanha já brotou e vem crescendo a cada dia e se estendendo pelos diversos territórios do nosso país espalhando a mensagem de que é possível viver e se alimentar de forma saudável sem destruir os nossos solos, nem contaminar as nossas águas e ainda respeitando os modos de viver dos povos e comunidades tradicionais.