O comitê do Rio de Janeiro da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida estendeu até o último domingo (24) uma faixa em frente à quadra da escola de samba Vila Isabel. O enredo sobre os agricultores foi elogiado, mas o patrocínio da produtora de agrotóxicos BASF recebeu uma critica sutil: “A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida saúda a escola de samba Vila Isabel, por reconhecer a importância da agricultura camponesa na produção de alimentos sem venenos e na preservação da natureza.”
Maria Mello, integrante da coordenação nacional da Campanha, afirma que o samba-enredo representa bem a agricultura camponesa, apesar do patrocínio da multinacional: “A Campanha Contra os Agrotóxicos dá os parabéns à Vila Isabel pelo samba campeão deste ano. Mas alertamos que a BASF usou uma das escolas mais tradicionais do Rio de Janeiro para associar seus produtos, altamente nocivos à saúde e ao meio-ambiente, à simplicidade e beleza do camponês. Quem usa o veneno desta empresa é o grande agronegócio!”, pondera.
Em carta entregue à Vila Isabel antes do carnaval, a Campanha já havia alertado a escola sobre os males do agronegócio, e a incoerência entre a letra do samba e seu patrocinador: “…gostaríamos respeitosamente de repudiar a atitude da Escola de samba Vila Isabel em aceitar dinheiro advindo do veneno, da doença e do câncer de famílias camponesas e de agricultoras e agricultores brasileiros”, afirma trecho da carta.
Martinho da Vila e a reforma agrária que ficou de fora
Reportagens divulgadas nos últimos dias revelam que Martinho da Vila ainda tentou inserir o termo “reforma agrária” na letra da música. Mas ficou satisfeito com a palavra “partilhar” no trecho: “A terra é abençoada / Preciso investir, conhecer / Progredir, partilhar, proteger…”. Segundo Maria Mello, “investir e progredir, na linguagem do agronegócio, quer dizer comprar mais agrotóxicos e fertilizantes químicos, ou maquinário pesado. Nós entendemos como investimento a tecnologia agroecológica, que permite a mesma produtividade sem uso de venenos.”
Crimes da BASF seguem impunes
A ficha de crimes cometidos pela BASF é extensa e vem desde 1921, com a explosão de uma fábrica na Alemanha causando mais de 500 mortes. A lista inclui ainda a produção do gás mortal utilizado nas câmaras de morte da Alemanha nazista.
No Brasil, ainda estão desamparados os trabalhadores intoxicados vítimas de uma contaminação em grande escala na antiga fábrica de agrotóxicos em Paulínia (SP). Sessenta trabalhadores morreram e 800 sofrem danos até hoje. A Shell e a BASF, responsáveis pela contaminação, se recusaram mais uma vez a fazer um acordo com os ex-trabalhadores no último dia 19.
Leia a Carta enviada pela Campanha Contra os Agrotóxico à Vila Isabel