“É preciso debater o uso de agrotóxicos no local de trabalho.”Com essa afirmação, Hélio Neves, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo (FETAESP), reforçou a urgência de ações relacionadas ao uso de agrotóxicos por trabalhadores assalariados rurais. “Um dia ainda vamos fazer uma greve pelo fim do uso do Regent (inseticida usado na cana)”, promete.
O debate aconteceu no I Encontro Nacional dos Assalariados Rurais, realizado em Araraquara, SP, entre os dias 13 e 15 de dezembro de 2013. Estiveram presentes sindicatos do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraíba. De acordo com Jorge dos Santos Filho, da Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais (ADERE-MG), os agrotóxicos estão entre os principais problemas enfrentados hoje pelos assalariados, junto com o trabalho informal e a migração.
Hélio Neves lembrou que o problema do uso de agrotóxicos vem sendo discutido de forma ampla do ponto de vista do camponês e do consumidor: “Mas e quem usa o agrotóxicos não porque quer, mas porque o patrão obriga? Se ele não puser a bomba nas costas, ele é demitido.” Os dirigentes sindicais presentes no encontro se comprometeram com o engajamento na Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e com a elaboração de propostas e formas de ação para proteger a saúde dos trabalhadores assalariados do campo.
Outro tema debatido no encontro foi a reforma agrária. João Edílson, do Sindicato de Empregados Rurais de Campo do Meio, MG, criticou a forma como a distribuição de terras vem sendo conduzida no país: “Ela é individualizada, e causa o endividamento dos assentados. O que mais se vê hoje são os agronegocinhos, que são agricultores que se dizem da agricultura familiar, mas usam transgênicos, agrotóxicos, e possuem maquinário pesado e empregados.” Segundo João, falta infraestrutura: “As piores terras do Brasil é onde se faz hoje a reforma agrária. É a reforma agrária de conflito, pois o governo só desapropria onde tem porrada.”
Os sindicatos presentes reforçaram a necessidade de uma reforma agrária que priorize a vida e a soberania alimentar. “A terra deve ser pública, inegociável e definitiva. Temos que resgatar a cultura camponesa, de guardar sementes, fazer nossas festas. Isso está se perdendo.”, afirmou João Edílson.
Ao final do encontro, foi encaminhada a criação de uma federação nacional que possa, de forma independente, defender os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, lutar contra a informalidade, a migração, o uso de agrotóxicos e pela reforma agrária.