Além de palestras sobre os perigos dos agrotóxicos e agricultura orgânica, o encontro contou com atividades culturais com grupos da cidade de Caldas
Cuidar da terra e da saúde, gerando emprego e renda para essa e para as futuras gerações. Com esse objetivo, o Grupo de Agroecologia de Caldas organizou nesta terça (28) o Primeiro Encontro da Agricultura Familiar de Caldas, no sul de Minas Gerais. O evento ocorreu na Câmara Municipal da cidade, com participação de cerca de 60 pessoas.
Além de agricultores e consumidores da cidade de Caldas, estiveram presentes delegações das cidades vizinhas de Poços de Caldas, Andradas, Congonhal e Ouro Fino. A Emater foi parceira na organização, mostrando seu compromisso com a construção da agroecologia no sul de Minas Gerais. Outro apoio recebido pelo evento foi da Aliança em Prol da APA da Pedra Branca, entidade que luta pela preservação do meio ambiente em Caldas.
O evento teve início com a apresentação cultural do Grupo Renascer, que trabalha com danças circulares. Em seguida, Uschi Silva apresentou o recém constituído Grupo de Agroecologia de Caldas. Segundo ela, “o grupo reúne agricultores e consumidores para promover a agricultura familiar agroecológica na cidade. A agricultura também tem cultura, e é a atividade que mais gera empregos na cidade. Lutamos por uma Caldas sem venenos.”
A primeira palestra do dia foi realizada pelo representante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida Alan Tygel. Foram apresentados os problemas de saúde causados pelos agrotóxicos, que vão desde náuseas e dor de cabeça até o câncer e as má-formações fetais. Alan convidou todos os presentes a participarem da Campanha produzindo alimentos saudáveis e preservando o meio ambiente.
Em seguida, a técnica da Emater de Andradas Maria Neuza de Carvalho apresentou a palestra “Agroecologia e a produção de alimentos saudáveis”. Em sua fala, Maria Neuza conceituou a agroecologia e pontuou suas diferença em relação ao modelo convencional: “O pensamento convencional da produção hoje parte do princípio de que o desenvolvimento é econômico. Ele não vê que a praga tem relação com o ambiente, o solo, a semente de qualidade. Se a planta não está num ambiente equilibrado, ela vai ficar mais propícia para ficar doente, e o agrotóxico não conserta a questão ambiental. A lógica do agronegócio é só ganhar dinheiro.”
Ela lembrou ainda uma frase de um agricultor de Andradas que trocou os venenos pela produção agroecológica: “Antes o dinheiro que eu mexia era mais, mas o que sobrava no meu bolso era menos.”
As palestras foram seguidas pelo relato de experiências de 5 agricultores de Caldas e da região. Johnatas Galdino, agricultor de Caldas, contou que sua forma de contribuir com a nossa sociedade é plantando algo saudável, e por isso ele mergulhou na biodinâmica. “Hoje produzo uva, amora e hortaliças, e participando dentro do possível nos diálogos regionais em relação ao fomento à agricultura orgânica, para melhorar um pouco esta sociedade, que parece prestes a naufragar.”
Zé Ricardo, agricultor de Poços de Caldas, falou sobre o baixo custo da produção orgânica. E foi aplaudido pela plateia com a seguinte fala: “Você pode baixar o preço para não dividir as classes, para que todos possam comer bem, o pobre e o rico. O maior problema de hoje é o conhecimento. A gente fica com medo de produzir porque passa uma lavagem cerebral de que nada vai dar certo. Se fosse assim a natureza já tinha morrido sozinha, mas basta observar a natureza. E não fique com medo, quando tem equilíbrio, não aparece doença, igual a nós, quando estamos saudáveis é difícil pegar qualquer coisa!”
O momento mais emocionante do dia foi a participação da Folia de Reis Estrela do Oriente. Seu Nélson, mestre da folia, contou que vem de família de agricultores, e que sempre produziram “mais ou menos como vocês falaram, tudo natural”. Eles compôs uma folia especialmente para o evento. “Valorizar o agricultor é um gesto de nobreza/com respeito ao seu trabalho vai alimentar nossa mesa./ Os defensivos que usamos pra lavoura proteger/pode ser muito perigoso do ser humano adoecer.”
O encontro foi finalizado com uma palestra do técnico da Emater de Poços de Caldas Venâncio Martins, sobre práticas em Agroecologia e técnicas de manejo para um cultivo sustentável. Venâncio apresentou diversas técnicas de compostagem, adubação verde, manejo ecológico de pragas, manejo da água, entre outros. O técnico apresentou experiências de produção de hortaliças, morango e café agroecológicos, sempre com foco na adubação verde e na produção de sementes.
Ao final do evento, Daniel Tygel, presidente da Aliança em Prol da APA da Pedra Branca foi convidado a fazer um informe sobre o projeto de lei que tramita na Câmara e pretende alterar a Lei da APA. Segundo ele, a Serra da Pedra Branca corre risco de ser invadida por novas pedreiras, colocando em risco o meio ambiente e a água que abastece tanto a população como a agricultura local .
O Primeiro Encontro de Agroecologia de Caldas se encerrou em clima de festa e alegria. Com este primeiro passo, o Grupo de Agroecologia de Caldas pretende convidar cada vez mais agricultores a aderirem à causa da agroecologia, transformando a pequena cidade de Caldas em uma referência na produção de alimentos saudáveis, aliando desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente.