Organizações de saúde e sociedade pedem avanços e não aceitarão marcha-ré!
Por Susana Prizendt
O ano de 2015 está tornando mais explícita a existência de duas forças, entrando em choque quanto ao modelo produtivo de alimentos que predomina globalmente.
De um lado, há um profundo amadurecimento de organizações sociais e da comunidade científica independente (que não está vinculada aos projetos de pesquisa financiados pelas empresas), no sentido de que é preciso impedir que os venenos agrícolas e os organismos geneticamente modificados continuem sendo utilizados em nosso planeta. Os danos que esses produtos causam, ou podem causar, são profundos e estão sendo descritos por vários alertas na área da saúde.
A Organização Mundial Da Saúde divulgou um documento em que reconhece, pela primeira vez, que agrotóxicos associados ao cultivo de organismos transgênicos, como o Glifosato, podem desencadear processos cancerígenos. Esse alerta provocou fortes reações no mundo todo, chegando a impactar as ações de empresas do setor nas Bolsas de Valores.
Já aqui no Brasil, a ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), publicou uma edição atualizada de seu dossiê “Um Alerta sobre os Impactos dos Agrotóxicos na Saúde”. Disponível em versão impressa ou digital, a publicação contém o conjunto de três documentos anteriormente publicados do panorama atual do país, e apresenta um novo texto, abordando o embate entre o que denomina “o agronegócio” e as iniciativas que buscam enfrentá-lo, criando um novo modelo baseado no cultivo agroecológico
Somando-se à iniciativa da ABRASCO, o Instituto Nacional do Câncer e o Ministério Público Federal também divulgaram novos documentos, destacando a necessidade de banirmos os agrotóxicos citados nos estudos da OMS e intensificarmos as ações para ampliar as experiências agroecológicas.
No entanto, os representantes dos setores legislativos (em nível nacional) adotaram o caminho inverso ao que a sociedade e a comunidade médica e científica reivindicam, ignorando os alertas emitidos por várias de suas organizações.
Dando ouvidos apenas aos interesses financeiros das empresas transnacionais de transgênicos e agrotóxicos, nossos deputados aprovaram uma lei que retira a obrigatoriedade dos produtos, que utilizam alimentos geneticamente modificados em sua composição, de indicarem esse uso em seu rótulo.
Desse modo, o direito ao acesso à informação sobre o conteúdo dos alimentos que os brasileiros consomem, permitindo que escolham com consciência seus ingredientes, foi subtraído, em um dos maiores retrocessos da legislação do setor.
Será apenas coincidência que, no momento em que o mundo todo aperta o cerco contra os OGMs e os seus venenos agrícolas, nossos parlamentares, cujas campanhas são financiadas por representantes do agronegócio, façam o movimento inverso, impedindo que possamos identificar esses componentes nos produtos que adquirimos para a nossa alimentação?
Saibam quem foram os que votaram a favor dessa lei desastrosa.
Não iremos aceitar esse tipo de boicote. Já apoiamos uma campanha nacional que exige o “NÃO FIM” dessa informação ao público e o IDEC, parceiro nas ações anti-transgênicos que desenvolvemos, criou uma carta, que conta com o apoio de cerca de 60 organizações, para que possamos reverter esse absurdo. Exigimos que os senadores vetem essa nova lei e que as vozes dos movimentos sociais, unidas às vozes dos pesquisadores da área da saúde, sejam ouvidas por eles, conscientizando-os de que não vamos mais tolerar os alimentos transgênicos e os agrotóxicos em nossas terras e em nossos pratos!
Junte-se a nós, escreva para os senadores Fim da Rotulagem dos Transgênicos. Diga Não!
Pela transição agroecológica já!
Obs Soubemos que o senado se mexeu e abriu uma consulta sobre a lei, veja aqui!
Saber Funcional
O trigo moderno e o aumento de reações de hipersensibilidade na população
Por Neiva Souza
O atual sistema de agricultura para o cultivo do trigo, no mundo globalizado, utiliza diferentes técnicas, envolvendo novas variedades deste cereal, para que possa ocorrer uma produção em larga escala, gerando mais lucratividade. Este tipo de produção requer uma grande demanda de fertilizantes ricos em nitrogênio para o crescimento das sementes, fazendo com que este “trigo moderno” sofra algumas modificações, incluindo maior teor protéico e maior concentração de peptídeos tóxicos quando se compara com o trigo tradicional.
Essas alterações sobre a composição do trigo têm contribuído, com o passar dos anos, para o aumento da prevalência de distúrbios orgânicos relacionados à ingestão deste cereal, relacionados principalmente com o sistema imunológico.
Quando em contato com essas novas proteínas vegetais, o sistema imunológico dos seres humanos pode gerar respostas inadequadas, favorecendo uma maior predisposição a alergias ou hipersensibilidades alimentares, incluindo a sensibilidade não celíaca ao trigo.
Esse tipo de sensibilidade envolve diferentes órgãos, como o estômago, o intestino, o cérebro e a pele, gerando sintomas que prejudicam a qualidade de vida das pessoas, sendo os mais comuns: a dor e o inchaço na região abdominal, o aumento na produção de gases, os desequilíbrios no funcionamento do intestino, as dores de cabeça, musculares e articulares, o cansaço, os sinais na pele (como descamação, vermelhidão, coceira e erupções) e a depressão.
Esses sintomas podem ser causados não somente pela presença das proteínas deste trigo moderno, mas, também, por outros componentes presentes neste cereal, como os oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e poliois fermentáveis.
Para que esse tipo de processo seja evitado, é recomendável o consumo de trigo orgânico, cultivado a partir de sementes crioulas, livre de fertilizantes a base de petróleo e de substâncias químicas tóxicas.
Já Mudou!
A sociedade pode celebrar o aumento da produção orgânica
Por Carol Ramos
A agroecologia comemora a estimativa publicada no começo do mês de abril pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que revela que o número de agricultores que cultivam seus produtos, sem a utilização de agrotóxicos ou hormônios em suas plantações, aumentou 50% de 2014 para 2015.
A região Nordeste é a que possui a maior quantidade de produtores rurais orgânicos, com 5.228 unidades de produção cultivadas uma área total de quase 750 mil hectares. As demais regiões têm, respectivamente, 3.378 unidades (Sul), 2.228 unidade (Sudeste), 1.337 unidades (Norte) e 592 unidades (Centro-Oeste). Veja mais dados do crescimento dos orgânicos no Brasil ao final do texto.
Em nível mundial, as propriedades orgânicas correspondem a 1% das terras agrícolas, localizadas principalmente na Oceania (12,1 milhões de hectares), na Europa (8,2 milhões de hectares) e na América Latina (8,1 milhões de hectares). Cerca de um terço dessas áreas está localizado em países em desenvolvimento, e os países com a maior área em produção orgânica são Austrália, Argentina, China, Estados Unidos e Brasil.
Este é um ótimo dado para investir-se na área, já que no início do século XXI o mercado desses produtos movimentava algo em torno de US$ 20 a US$ 24 bilhões. E para muito além do lucro, a alimentação orgânica beneficia não só a saúde dos consumidores, trazendo para a mesa a quantidade integral de nutrientes de cada produto sem veneno nenhum, como também mantém o produtor na terra, a qualidade do solo, da água e do ar.
Crescimento dos orgânicos no Brasil
Vamos Mudar?
Pré-conferências de SAN devem abordar as hortas e os alimentos orgânicos
Por André Biazoti
São Paulo reestruturou o COMUSAN – Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional e agora irá fazer suas Conferências Locais ou Pré-conferências, compostas pelas Sub-Prefeituras das Macro Regiões (Norte, Sul, Leste e Oeste) e, em seguida, deverá realizar a Conferência Municipal de SAN (Segurança Alimentar e Nutricional)
Gostaríamos de fazer um chamamento geral na Cidade de SP para que a própria população consiga transmitir quais são as demandas principais e o que gostaria de ver aprovado no PLANSAN – Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional.
É importantíssima a participação dos paulistanos para colocarem a pauta dos alimentos orgânicos, das hortas urbanas e de mais apoio para nossos cultivos comunitários e familiares. Só assim conseguiremos ter mais cursos gratuitos de hortas por toda a cidade e maior apoio para fazer hortas coletivas em espaços públicos, que sejam abertas aos moradores das comunidades. A hora é agora!
Confira a programação das Conferências Locais, participe e divulgue para todos de sua região! Para mais informações: (11) 3228-6363.
Leste I
Guaianases, Ermelino Matarazzo, Itaim Paulista, Penha e São Miguel
Dia: 8 de maio, das 13h às 17h
Local: Rua Dona Ana Flora Pinheiro de Souza, 76, São Miguel
Leste II
Aricanduva, Cidade Tiradentes, Itaquera, São Matheus, Sapopemba, Vila Prudente
Dia: 9 de maio, das 13h às 17h
Local: CEU Alto Alegre, Rua Bento Guelfi, s/nº, São Matheus
Sul I
Capela do Socorro, Cidade Ademar, Parelheiros
Dia: 15 de maio, das 13h às 17h
Local: CEU Parelheiros, Rua José Pedro de Borba, 20, Parelheiros
Sul II
Butantã, Campo Limpo, M´Boi Mirim, Santo Amaro
Dia: 16 de maio, das 14h às 18h
Local: CEU Campo Limpo, Avenida Carlos Lacerda, 678, Pirajussara
Sul III
Ipiranga, Jabaquara, Vila Mariana
Dia: 22 de maio, das 8h às 13h
Local: CEU Caminho do Mar, Avenida Eng. Armando de Arruda Pereira, 5.241, Jabaquara
Norte
Casa Verde, Freguesia do Ó, Brasilândia, Jaçanã, Tremembé, Perus, Pirituba, Jaraguá, Santana, Tucuruvi, Vila Maria, Vila Guilherme
Dia: 23 de maio, das 9h às 13h
Local: Av. João Marcelino Branco, 95 (próximo ao Terminal Cachoeirinha)
Centro/Oeste
Mooca, Lapa, Pinheiros
Dia: 29 de maio, das 14h às 18h
Local: Praça da República, 282 (auditório da Apeoesp)
Semeando
Maio traz vivências gratuitas e manifestações contra os transgênicos!
17/maio e 7/junho – O Espaço MUDA de Cultura Orgânica da feira do Shopping VillaLobos oferece duas vivências especiais. Para ministrar uma oficina de culinária viva, a conhecida pesquisadora e chef Conceição Trucom, virá no dia 17 de maio, às 10:30, preparará pratos sem açúcar, sem farinhas e sem lactose e autografará seus livros, que são referência no setor de alimentação e saúde. Acompanhe os preparativos da atividade e planeje sua participação no link abaixo. Já no dia 7 de junho, também às 10:30, ocorrerá uma homenagem ao dia do meio ambiente e os produtores orgânicos da região do Vale do Paraíba, compartilharão seus saberes e sabores na vivência Da floresta para a Mesa, mostrando como o sistema de cultivo agroflorestal proporciona a preservação da biodiversidade e traz mais nutrientes para nossa alimentação.VEJA MAIS!
18 a 23/maio – Seminário “HIDRONEGÓCIO: Para onde vai a agua numa crise construida?”, no auditório da Geografia e História da USP, localizado na Cidade Universitária de São Paulo. Este evento visa problematizar as formas de apropriação das águas na sociedade, em meio ao processo de privatização de recursos naturais que se intensifica.
Como forma de ampliar a visão da atual crise hídrica da região Sudeste do Brasil, o seminário pretende promover articulação e debate entre atores que constroem o enfrentamento da crise, trazendo reflexões e perspetivas ausentes nos discursos da mídia tradicional e dos governantes.
VEJA MAIS!
25/maio – O outro destaque do mês é o dia internacional da marcha contra a maior empresa de organismos geneticamente modificados e o seu pacote de agrovenenos sintéticos: a Monsanto. Recentemente estudos internacionais estão sendo divulgados, revelando a associação de produtos dessa empresa com o aumento de câncer e outros males. No Brasil, diversas organizações vão promover atividades para dizer que os brasileiros não querem mais ser cobaias dessa indústria irresponsável. Em São Paulo, há a previsão de uma manifestação vigorosa, mas pacífica, com atividades culturais e cinedebates, na região onde fica a sede da empresa. VEJA MAIS!
31/maio – Para unir energias entre movimentos socioambientais, nós resolvemos realizar a nova edição do #BORAPLANTAR no evento que anualmente celebra nossos recursos hídricos da zona sul de SP, o dia do Abraço da Guarapiranga. Venha semear conosco, todos são bem-vindos. VEJA MAIS!
4 a 6 junho – Como parte da semana do meio ambiente, o MUDA e o caminho Natural oferecem um conjunto de oficinas gratuitas no SESC Pompéia, serão 3 encontros (um a cada dia), com 3 temas diferentes, mas complementares, todos a serem ministrados das 14:30 as 17:30, as inscrições podem ser feitas no local, meia hora antes do início de cada vivência. Confira: Biodiversidade na Nutrição, na Saúde e nos Cuidados Pessoais – No primeiro encontro, Conhecendo as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) e criando pratos nutritivos e saborosos; no segundo, Cultivando ervas medicinais e preparando receitas para restabelecer o equilíbrio do corpo e da mente e, no terceiro, Cuidando do nosso corpo e do meio ambiente com a produção de cosméticos naturais para uso diário. Com MUDA-SP. 20 Vagas por encontro. Distribuição de Senhas com 30 min de antecedência no local.
Cuidado: VENENO!
A indústria do veneno gera mais de 7 litros de agrotóxicos por pessoa ao ano.
Por Benjamin Prizendt e Susana Prizendt
Desde o ano de 2008, o Brasil mantém o primeiríssimo lugar no consumo de agrotóxicos.
Já naquela época, os valores financeiros eram grandiosos, na casa dos bilhões, revelando que o setor de venenos agrícolas proporcionava lucros imensos para as empresas que fabricam seus princípios químicos sintéticos, ao mesmo tempo em que geram prejuízos incalculáveis para a população e o ambiente.
Mas os ganhos seguiram se ampliando e o setor conquistou um novo recorde e faturou uma receita bruta de US$ 12,2 bilhões em 2014, segundo informou a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Tais números representam um aumento de 4,3% ante a cifra de US$ 11,7 bilhões registrados. Se convertermos os valores de 2014 para reais, teremos cerca de R$ 36,6 bilhões!
Considerando um preço médio de R$ 25,00 por litro (tomando como base as quantias vendidas e o valor de cada agrotóxico comumente utilizado no país), chegamos a um total de cerca 1 bilhão e 470 mil litro de venenos consumidos só nesse último ano. Com a população brasileira na casa de 200 milhões, vemos que atualmente são 7,3 litros de agrotóxicos por pessoa. E, assim, ultrapassamos a média de 5,2 litros por pessoa, registrada, em 2010, pouco antes de iniciarmos a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Por mais que tenha existido um crescimento intenso no número de agricultores orgânicos nos últimos anos, sendo que, somente em 2014, houve uma ampliação de 50% de produtores, essa conquista dos que buscam alimentos saudáveis fica frágil quando comparada ao avanço contínuo e desenfreado do uso dos agrotóxicos nas lavouras do país.
É devido ao impacto altíssimo que a quantia de quase 1 bilhão e meio de litros de venenos agrícolas comercializados e aplicados em nosso território ao ano, gera na saúde da população e no meio ambiente, que nós e as organizações parceiras que nos apoiam, lutamos ininterruptamente para frear essa devastação. Precisamos alterar a lógica dominante em nossa política agrícola, desestimulando a utilização dos agrotóxicos através de sua taxação, do banimento dos princípios já proibidos em outros países e da ampliação dos recursos para que cada vez mais agricultores possam fazer a transição, substituindo o cultivo envenenado pelo cultivo de base agroecológica.