A interferência da OMS a favor do uso de pesticidas no controle de vetores não é nova. Já nos anos 60, Frederico Adolfo Simões Barbosa denunciava o favorecimento da Bayer.
“Bem, a OMS é um órgão extremamente político. Havia muita pressão por parte de certas empresas. Por exemplo, naquela época havia grande interesse no uso de moluscicidas que, quase sempre, eram preconizados como medida única de controle. Opus-me a colaborar com esse esquema e cheguei a ser muito pressionado para dar pareceres, etc. A Bayer produzia o Bayluscide, e o governo brasileiro chegou a comprar não sei quantas toneladas do produto, que ficaram a apodrecer por aí, nos porões da burocracia. Vendia-se Bayluscide ao mundo inteiro. Nessa época, um pesquisador egípcio muito conhecido M. Farooq chegou a publicar, em um mesmo número do Boletim da OMS, uns quatro ou cinco trabalhos seguidos exaltando o Bayluscide no controle da esquistossomose. Acontece que eu já havia trabalhado com moluscicidas no Brasil, em um estudo de dez anos de duração realizado em São Lourenço da Mata, e duvidava de sua factibilidade. Isso porque, apesar do uso continuado, o Bayluscide não interrompeu a transmissão na região. Além disso, as dificuldades de aplicação, o custo elevado e o impacto ambiental levavam-me a ver que as tantas dificuldades inerentes ao controle químico eram de difícil resolução. Por isso era contra, salvo em situações muito particulares.”
Uma conversa com Frederico Simões Barbosa
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