Diversos casos de intoxicação foram relatados por famílias moradoras do Assentamento Vale do Guará, no município Vargem Grande do Rio Pardo. Cerca de 30 pessoas, entre elas, crianças, jovens e adultos, sentiram diversos sintomas depois que um avião pulverizador de agrotóxicos passou por uma enorme plantação de eucalipto. Segundo as vítimas, um inseto parecido com um piolho chegou a infestar as casas dos moradores, provavelmente, vindo da área de monocultura de eucalipto. A aplicação do defensivo por parte dos donos da plantação acabou poluindo o ambiente, causando grande mal estar entre as diversas pessoas.
O posto de saúde mais próximo ficou pequeno para tantas pessoas, todas com os mesmos sintomas. Náuseas, febre, vômitos, coceiras na pele foram os sintomas mais comuns. Pessoas que já tinham a saúde frágil ainda tiveram maiores complicações com a baixa imunidade, acabaram tendo ataque de outras doenças como gripes, resfriados e até alergia.
O pior é que as famílias não têm pra quem denunciar. Segundo elas, até pensaram em reclamar para o Conselho Municipal de Meio Ambiente, o Codema, porém proprietários das monoculturas de eucalipto possuem assento no conselho. Para as famílias a situação é de injustiça e impunidade.
Povo tradicional em luta
A região faz parte do território tradicional dos geraizeiros. Os assentados do Vale do Guará afirmam que esse não é o único mal que a monocultura de eucalipto tem trazido. Segundo eles, muitas nascentes da região secaram ou estão comprometidas desde que o eucalipto chegou à região. Eles acreditam na importância da preservação do meio ambiente e na possibilidade de gerar renda a partir do manejo sustentável da região, valorizando as potencialidades como o extrativismo de frutos do cerrado e outras.
Os assentados estão na luta junto com outras comunidades do entorno que tem o mesmo propósito: a criação da Reserva Extrativista – Resex Areião. Um dos objetivos da criação da reserva é garantir a proteção da área, que além de ser referência de suas culturas, abriga uma grande biodiversidade e diversas nascentes.
As comunidades do entorno estão sendo apoiadas pela Promotoria do São Francisco com a implantação de Unidades Socioambientais de Referencia – USARs, onde são construídas propostas de uso, ocupação e produção agroextrativista dentro dos princípios da agroecologia. Também estão sendo implementadas tecnologias de armazenamento de água da chuva pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), da Articulação no Semi-Árido (ASA).
Apesar de ser uma região de nascentes, depois da chegada do eucalipto muitas secaram, diminuindo bastante a disponibilidade de água na região. Por meio das capacitações do programa da ASA, as famílias tiveram mais conhecimento sobre seus direitos. No entanto, eles ainda encontram dificuldades para denunciar, uma vez que os órgãos do município e região são comandados por pessoas com interesses pessoais e econômicos.
As comunidades reivindicam que os órgãos públicos responsáveis pela fiscalização do uso de agrotóxicos, entre eles, Ministério da Agricultura, Ministério da Saúde, Anvisa, Ibama, SEMAD, Secretaria de Agricultura, Secretaria da Saúde e Ministério Público, façam de imediato uma fiscalização conjunta, no sentido de coibir as pulverizações e promover ações de proteção da saúde das comunidades geraizeiras, que vem sendo impactadas pela monocultura do eucalipto. As comunidades também reivindicam que o ICMBio decrete de imediato a criação da RDS / RESEX Areião Vale do Guará.
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e esses venenos estão nos alimentos, na terra, na água e no ar. Este é um grave problema de saúde pública, com milhares de casos de câncer e de inúmeras outras doenças graves e mortes todos os anos. A agroecologia e a agricultura camponesa são as soluções para alimentar a humanidade e podem produzir alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. Os agrotóxicos são um dos pilares de sustentação do agronegócio, modelo que expulsa a população do campo, produz para exportação e gera lucros para as empresas transnacionais, perpetuando fome e pobreza.
Diante dessa situação, foi lançada, no início de 2011, aCampanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que conta com o seu Comitê Estadual de Minas Gerais, composto por movimentos, entidades e organizações. Veja AQUI mais informações sobre a Campanha.
Fonte: Cáritas Regional Minas Gerais