Por Wellington Quevedo
Do Brasil de Fato
O Assentamento Santa Rita de Cássia II, de Nova Santa Rita, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), aumentou sua produção de arroz orgânico. São 31 famílias, que produzirão 110 hectares do alimento. Os agricultores já iniciaram no mês de julho deste ano a transição.
A produção orgânica assume um importante papel na luta contra o veneno, depois das famílias assentadas terem sofrido com a deriva de agrotóxico em novembro de 2020, tanto em produções agroecológicas quanto nas convencionais.
Marcos Vanderlei, do setor administrativo da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), fala sobre a relação do modelo de produção do agronegócio com o uso de venenos para suas culturas. “Eles estabelecem uma relação de exploração, de agressão e destruição dos recursos naturais, com aplicação de práticas irresponsáveis e insustentáveis. Sobretudo, o envenenamento que tem atingido os ecossistemas, a produção de alimento e as pessoas”, explica o assentado.
Já o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para combater o agronegócio e o alto índice de veneno em seus cultivares, tem como uma das suas principais bandeiras a agroecologia. Em Nova Santa Rita vários desses camponês já trabalham com esse modelo de produção.
Renovação do modo de cultivar
Para iniciar a produção orgânica é necessária a conversão do sistema que leva 12 meses manejados com práticas e sistemas de controle em conformidade com a legislação orgânica conferida pela certificadora. A decisão pela substituição do molde de produção conduziu-se a uma grande reflexão com o grupo de famílias do assentamento que já produzia outros alimentos agroecológicos. O coletivo discutiu o seu jeito de viver e frutificar, assim, optando pela renovação no modo de cultivar suas culturas.
Depois da deriva de agrotóxicos, os produtores do Assentamento Santa Rita de Cássia II ficaram 60 dias sem poder comercializar seus produtos. Foram barrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pelos órgãos responsáveis pelos gêneros orgânicos do Rio Grande do Sul. Nesse momento se notou o resguardo das autoridades para com o consumidor, mas uma falta de zelo pelos produtores, que perderam sua arrecadação.
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A atitude da mudança no modelo de produção se deu também pelo fomento da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região De Porto Alegre (Cootap), uma iniciativa de economia solidária que tem por objetivo a prática do comércio justo e do consumo sustentável. Também é responsável por incentivar e desenvolver a produção de arroz agroecológico nos Assentamentos de Reforma Agrária do estado gaúcho, onde as famílias estão organizadas no Grupo Gestor do Arroz Agroecológico. A cooperativa auxilia através das políticas dos insumos, serviços, compra da produção e formação técnica.
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Essa transição tem como objetivo, além da luta contra o sistema hegemônico de produção, gerar maior lucro para os assentados. De acordo com o assentado Joice Sarmento, de Nova Santa Rita, o arroz orgânico é comercializado a um preço superior relacionado ao tradicional e, automaticamente, estabelece uma renda maior aos produtores.
“A cultura orgânica hoje é autossustentável, ela produz e remunera mais do que o convencional. Eu que faço feira, estou produzindo arroz e tenho produzido outros tipos de grãos. Então, a gente sabe o valor do mercado hoje e o valor que é comercializado”, comenta o sem terra.
O modelo agroecológico coloca a vida em primeiro lugar. Foge das amarras da produção padrão, que usa inúmeros produtos nocivos à saúde. Já existem vários estudos comprovando como o uso de agrotóxicos no plantio e na produção de alimentos podem gerar tanto danos à saúde de quem produz quanto à de quem consome esses alimentos.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira