Mesmo regularizada somente em 2005, com a aprovação da Lei de Biossegurança pelo Congresso Nacional, a produção de alimentos transgênicos no País já é a segunda maior do mundo, com 30 milhões de hectares de plantações em todo o território brasileiro, de acordo com a última safra registrada este ano. Especialistas apontam que a soja é a principal responsável por esse crescimento na produção. Ao todo, 89% da soja produzida no País são geneticamente modificadas. Só os Estados Unidos têm uma plantação maior: 69 milhões de hectares.
Até hoje, o País já aprovou a utilização comercial de cerca de 50 organismos geneticamente modificados, dos quais 35 são plantas. Assim como já foi feito pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), os agricultores familiares do Estado defendem o endurecimento da luta contra o uso indiscriminado de agrotóxicos e os transgênicos no País, com o objetivo de fortalecer a segurança alimentar e nutricional.
O problema dos agrotóxicos e transgênicos é evidente também para a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), que coordenou um dossiê sobre as evidências científicas existentes dos impactos do uso agrotóxico na saúde humana e nos ecossistemas. Além disso, alerta a entidade, os atual modelo de desenvolvimento é voltado prioritariamente para a produção de bens primários para exportação.
As plantas atualmente existentes no mercado sofreram alteração genética quase sempre com o objetivo de se tornarem mais resistentes – seja a agrotóxicos, a pragas ou as intempéries climáticas. Mas a redução do uso de agrotóxicos possibilitada pela transgenia não vem ocorrendo no Brasil, porque as ervas daninhas adquirem resistência ao herbicida usado nas plantações de transgênicos.
Além disso, lembram os pequenos agricultores, desde que o País passou a plantar soja transgênicas em escala comercial, assumiu também a liderança no consumo de agrotóxico.
No Espírito Santo, o debate sobre o cultivo de transgênicos ganhou força em 2008, com a iminência dos plantios de eucaliptos transgênicos no norte do Estado. Na ocasião, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) criticou a decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que liberou a realização de experimentos com eucaliptos, particularmente pela Aracruz Celulose (Fibria), em plantios “experimentais”.
Tanto o MPA como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que formam a Via Campesina, já denunciaram os riscos ambientais e sociais dos transgênicos. Os impactos vão desde o aceleramento da exaustão da terra, pela absorção de minerais e água pela planta, até a contaminação de espécies nativas.
Com os plantios em tempo mais curto, um número cada vez maior maior de agricultores também deixaram os plantios de alimentos, trocando-os pela eucaliptocultura.
Fonte: Texto de Flávia Bernardes publicado originalmente no site http://www.seculodiario.com.br