por Alan Tygel
O comitê baiano da Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida realizou neste fim de semana (17 e 18 de dezembro) o seu I Seminário Estadual de Planejamento. Além dos militantes dos comitês já formados no estado – Salvador e Vale do São Francisco – estiverem presentes militantes de cidades de toda a Bahia, como Guanambi, Cícero Dantas, Ipirá, Cruz das Almas, Juazeiro, Itabuna, Ilhéus, Arustina, Esplanada, Camamú, Araçá, Juçara, Irecê, Itapetinga, além de convidados do Quebec (Canadá) e Rio de Janeiro.
O encontro aconteceu no CEAS – Centro de Ação Social, em Salvador, e contou com cerca de 40 pessoas. Militantes de movimentos sociais, estudantes e sindicalistas de diversas entidades do estado já vinham realizando ações isoladas na luta contra os agrotóxicos, e o objetivo do seminário foi dar unidade para as ações no estado.
A primeira atividade buscou nivelar os participantes em relação à questão dos agrotóxicos. Foram abordados temas fundamentais para compreensão do modelo de produção agrícola, como a segurança alimentar e nutricional e a concentração de terras. A Bahia é o estado com maior número de pessoas sofrendo de insegurança alimentar grave, que atinge sobretudo negros e mulheres.
Em seguida, buscou-se entender o funcionamento do agronegócio no estado. O sul da Bahia é hoje completamente dominado pelo plantio de eucalipto da Stora Enso/Veracel/Aracruz, que chegam a usar 9 litros de glifosato por hecatre, além do mirex, como denuncia Ivonete, do CEPEDES. Já na região oeste, latifundiários da soja estão deixando as terras já completamente envenenadas e desgastadas. O governo, cumprindo seu papel submisso, vem comprando as fazendas e as disponibilizando para a reforma agrária, para que o pequeno agricultor arque com o ônus de recuperar uma terra degradada por anos de utilização de veneno.
Já no Vale do São Francisco, a luta é contra a fruticultura irrigada, de uso intensivo de venenos que contaminam o Rio São Francisco, como conta Diego Albuquerque, do comitê do Vale do São Francisco. Na região se localiza o maior latifúndio irrigado do mundo, com 30 mil hectares contínuos de cana-de-açúcar. O Rio Paraguaçú, que abastece metade da população da Bahia, começa a ser contaminado na chapada pela produção de batatas para o McDonalds. Em seguida vem o abacaxi de Ipirá, onde se aplica veneno desde a primeira floração da fruta. Por fim, o histórico Recôncavo Baiano sofre com a plantação de fumo, uma das mais intensas em venenos. Toda produção vai para a Souza Cruz e Phillip Morris.
Apesar da força do agronegócio, a Bahia tem em seu histórico uma grande vitória contra a Veracel. Em 1988, a população conseguiu barrar a implantação de uma fábrica de celulose pela empresa, como conta Reinaldo, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araçás.
Na Bahia, os agrotóxicos também afetam as populações tradicionais. Na região de Camamú, enquanto as comunidades quilombolas lutam pelo reconhecimento de suas terras, venenos aplicados há muitos anos, como o BHC, causam estragos até hoje. É o que nos conta Gilmar Santos.
Os desafios são grandes, mas segundo Rafael Rodrigues, um dos organizadores do seminário, o evento foi um sucesso: “Até agora tínhamos 2 comitês, mas o compromisso que tiramos aqui é que se formem mais 8, abrangendo quase toda a Bahia.” E finaliza: “Em um futuro breve não estaremos mais comendo para morrer, e sim plantando comida para alimentar a companheirada que hoje passa fome por conta desse modelo de desenvolvimento que só concentra e destrói a natureza.”