Por Roberta Quintino l Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Iniciou na quinta (26) o primeiro Encontro Nacional de Comunicadoras e Comunicadores Contra os Agrotóxicos, em São Paulo. O evento, que acontece até sábado (29), tem como objetivo a troca de experiências das organizações na luta contra os agrotóxicos, bem como, construir coletivamente instrumentos e estratégias de comunicação para a denúncia do modelo de agricultura baseado no uso de venenos e no anúncio da agroecologia como modelo de produção de alimentos que coloca a vida em primeiro lugar ampliando os territórios livres e saudáveis.
O Encontro é uma iniciativa da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e nasce do reconhecimento da comunicação como um elemento estruturante para a construção de uma narrativa contra hegemônica e da necessidade de organizar ações de base territorial para o enfrentamento as contradições do agronegócio e da mídia, articulado com o conhecimento e processos já iniciados pelos movimentos.
Na mesa de abertura, a jornalista e mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, Ana Mielke, destacou a estreita relação da concentração da propriedade de terras e a concentração da mídia, associadas com a ideia do “coronelismo” e a lógica do agronegócio, que restringe o poder da propriedade a poucos grupos e famílias.
Ela frisou que, impulsionado na década de 90, o agronegócio se construiu em meio a críticas. Mais recente, há uma tentativa de comunicação de amenizar as contradições desse modelo, no qual se cria um imaginário social da importância do agronegócio no Brasil, uma campanha tecida com desinformação, que ao mesmo tempo criminaliza os movimentos do campo.
Ana Chã, autora do livro “Agronegócio e Indústria Cultural” e mestre em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe pela Unesp, disse que o agronegócio se coloca como um projeto único para o campo. “Se o agro é tudo não é preciso dar mais espaço para mais nada, como a reforma agrária, por exemplo, eliminando todos os sujeitos e práticas” fora do contexto desse modelo agrícola pautado no uso de agrotóxicos.
Nesse cenário de disputa entre dois projetos distintos, a Campanha Contra os Agrotóxicos entende que a única possibilidade de confrontar as ideias e ações do agronegócio é a defesa de um modelo de desenvolvimento agrário, com base na agroecologia ao invés dos venenos e transgênicos, que considere a vida mais importante do que o lucro das empresas e tendo como centralidade a luta por reforma agrária popular, a demarcação das terras indígenas e quilombolas, sendo a terra um bem comum e não propriedade privada de grandes empresas.
Nessa perspectiva, os participantes vão elaborar durante o encontro um calendário de lutas com ações permanentes de denúncias dos agrotóxicos e anúncios da vida, com atuação em rede. A atividade reúne mais de 30 comunicadores e comunicadoras de vários cantos do país, representando cerca de 20 organizações do campo e cidade.