Flavia Bernardes
As entidades ligadas a Via Campesina, que reúne agricultores familiares de todo o País, iniciaram nesta quinta (7) um ciclo de debates para lançar a ‘Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida’. O objetivo da campanha é debater com a sociedade as conseqüências do uso de agrotóxicos, buscando o combate da sua aplicação em todo o País, segundo a Via Campesina.
Entre os debates a serem abordados durante todo este dia estão os impactos sociais e ambientais do uso do agrotóxico e sobre quais suas conseqüências do uso e do consumo de agrotóxico influem negativamente na saúde humana. A última palestra do dia será realizada na Faesa, em Vitória, às 19h, e discutirá um novo modelo de produção para o campo no País.
Entre os debatedores estarão o Dirigente Nacional do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) Sérgio Conti e a doutora em Economia Política e professora da Escola Nacional Florestan Fernandes Roberta Traspadine.
Ao todo, ressalta a Via Campesina, o País consumiu 1 bilhão de litros de agrotóxicos durante o ano de 2010. Esta quantidade corresponde a um crescimento de 300 milhões no consumo anual de venenos pelo Brasil, que tem levado o País à contaminação do solo, da água, do ar, dos alimentos e consequentemente do ser humano.
O Brasil foi considerado, pelo segundo ano consecutivo, o campeão mundial em consumo de agrotóxicos e as conseqüências deste consumo estão cada vez mais acentuadas.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso revelou que os agrotóxicos usados nos campos de Lucas do Rio Verde, um dos maiores produtores de grãos no Estado, estão contaminando o leite materno.. No leite de algumas mulheres foram detectados até seis tipos de agrotóxicos. Na maioria das amostras foi encontrado inclusive o DDE, um derivado do DDT, proibido desde 1998 por causar infertilidade e abortos.
A contaminação ocorre principalmente pela ingestão de alimentos, segundo o estudo, mas a inalação e o contato com a pele também geram problemas de saúde na população.
No Estado, a situação não é diferente. Apesar dos poucos estudos divulgados neste sentido, há denúncias do alto índice de abortos espontâneos em áreas rurais nas quais o uso de agrotóxico é intenso, assim como relatos de má-formação fetal, câncer, impotência, depressão e consequentemente, suicídios.
Segundo a Via Campesina, crescem a cada dia registros de intoxicações e mortes ligadas ao uso dos agrovenenos, que frequentemente afetam trabalhadores agrícolas e a população camponesa e urbana.
Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2005, apontam para a ocorrência de 7 milhões de intoxicações severas anuais no mundo, das quais resultam cerca de 70 mil mortes, a maioria delas por exposições ocupacionais.
A Via Campesina defende uma produção limpa, com base na agroecologia e nas práticas camponesas de cultivo. Essa proposta está articulada com a necessidade de uma nova dinâmica de produção para o campo brasileiro, que priorize a sustentabilidade do meio ambiente e a produção de alimentos saudáveis para a população.
Brasil campeão
Nas lavouras brasileiras são usados pelo menos dez produtos proscritos na União Europeia (UE) e nos Estados Unidos, e um deles até no Paraguai. Campeão mundial de uso de agrotóxicos, o Brasil se tornou, nos últimos anos, o principal destino de produtos banidos em outros países.
A informação é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com base em dados das Nações Unidas (ONU) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Apesar de prevista na legislação, o governo não leva adiante com rapidez a reavaliação desses produtos, etapa indispensável para restringir o uso ou retirá-los do mercado.
Em 2008, uma nova lista de reavaliação sobre produtos banidos foi feita, mas, por divergências no governo, pressões políticas e ações na Justiça, não teve sucesso.