Por Solange Engelmann
Da Página do MST
Durante a semana da árvore, entre os dias 20 a 25 de setembro, o MST promove uma jornada especial dentro do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, com ações voltadas à recuperação e preservação da biodiversidade e dos bens comuns, que envolvem famílias assentadas e acampadas da Reforma Agrária Popular em todo país.
Com o lema “Semear o Presente, Respirar no Futuro: Árvores Vivas e Fora Bolsonaro!”, as diversas atividades visam a recuperação florestal de biomas brasileiros, como da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica, em parceria com a produção de alimentos saudáveis, que o MST já vem desenvolvendo. Com massiva participação da juventude Sem Terra estão sendo realizados plantios de árvores, coleta de sementes, doação de mudas, mutirões para organização de viveiros e a construção de uma Rede de Viveiros Populares.
Bárbara Loureiro, da coordenação nacional do MST e da coordenação do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, explica que, aliado à produção de alimentos saudáveis, o plantio de árvores tem se tornado um importante símbolo político na luta do MST, e no cotidiano das famílias Sem Terra nos territórios, que também seguem homenageando o Centenário de Paulo Freire.
“Seguimos plantando árvores, construindo viveiros e bosques e também dando a intencionalidade de lançar a Rede de Viveiros da Reforma Agrária Popular nessa semana. Reconhecendo que são os camponeses e as camponesas os guardiões e guardiãs desses bens comuns, que são as nossas sementes, mudas, as árvores. E da importância da gente ta dando unidade também às diferentes iniciativas de viveiros, casas de sementes”, explica ela.
A dirigente comenta ainda sobre a importância de aproveitar a semana para organização de mutirões voltados à construção de novos viveiros e casas de sementes, “envolvendo a nossa militância e toda a nossa base, os grupos coletivos, os grupos de mulheres, grupos de juventude”. No prazo de dez anos a meta é plantar 100 milhões de árvores nos territórios do MST, fortalecendo a produção de alimentos e denunciando o modelo de destruição do agronegócio e do capital no campo, que geram impactos destrutivos no meio ambiente.
Nesse sentido, diretamente do Bioma Amazônico e do Bioma da Mata Atlântica, apresentamos duas experiências de viveiros populares da Reforma Agrária de mudas, que estão sendo organizados pelas famílias Sem Terra, nos assentamentos, acampamentos, escolas e centros de formação do MST.
Plano nacional fortalece experiência de viveiros na Amazônia
No Estado do Pará, atualmente o MST conta com 12 experiências de viveiros em funcionamento, localizados em áreas de Reforma Agrária. O assentamento 26 de março, em Marabá possui 4 viveiros. Já os assentamentos Abril Vermelho, em Santa Bárbara; João Batista, em Castanhal; Carlos Lamarca, em Capitação Poço; Luiz Carlos Prestes, em Irituia; Paulo Fontelles, em Mosqueiro; Mártires de Abril, em Mosqueiro; Olga Benário, em Acará, e Palmares II no Instituto de Agroecologia Latino Americano Amazônico (IALA Amazônico) em Parauapebas, contam com um viveiro cada um.
O estado possui viveiros artesanais e viveiros maiores, com estrutura metálica. Alguns são coletivos e outros familiares. Alguns viveiros possuem a capacidade de 5 mil mudas, outros de 8 mil mudas e de 12 mil mudas.
Izabel Rodrigues, do setor de produção cooperação e meio ambiente do MST no estado, relata que a construção de viveiros em espaços do MST no Pará tem sido uma prática desde o início da organização das famílias do Movimento, com a criação dos primeiros assentamentos. “Desde o assentamento Palmares, lá a gente construiu os viveiros coletivos a partir de debates dos núcleos de base, pra levantar os viveiros, fazer as mudas e a distribuição para as famílias plantarem. Essa é uma prática que já tem a muito tempo, desde de 1996, e com o Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” a gente continua buscando parcerias e continuar.”
A partir da iniciativa do Plano Nacional de plantio de árvores do MST os/as trabalhadores/as Sem Terra estão fortalecendo as experiência que já vinham sendo desenvolvidas ao longo dos anos. Para o funcionamento, os viveiros contam com parcerias com as secretarias de Agriculturas dos municípios e do estado, de institutos como o Instituto Federal do Pará, que apoia com mudas, visitas técnicas, e pesquisa, contando com uma equipe que realiza pesquisas na área para o fortalecendo e suporte científico às famílias. Uma parte do trabalho nesses espaços é realizado em forma coletiva, por meio de mutirões.
Sobre o trabalho de base com as famílias Sem Terra e os benefícios dos viveiros para a recuperação e preservação da floresta e as melhorias na qualidade de vida das e dos camponeses, inseridos nos Plano Nacional do MST: “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, Izabel conta que vem sendo realizado um trabalho de conscientização junto às famílias sobre a importância do plantio de árvores e dos frutos disso, com o fornecimento de alimentos para os camponeses e as famílias da cidade.
“Nós temos trabalhado na seguinte perspectiva: primeiro conscientização das famílias que a gente tem que plantar árvores, e que essas árvores pra nós são importantes, sem elas a gente não terá muito tempo de vida; porque as árvores nos dão um oxigênio puro e captação de água, sombra, alimentos, etc. Tem algumas frutíferas, cacau, açaí e pupunha, que tem também objetivo de trazer renda pras famílias”, aponta.
Izabel explica ainda, que as famílias Sem Terra também estão buscando sementes de outras árvores nativas do Bioma Amazônico que se encontram em processo de extinção. “A gente tá na busca das sementes, que de sumauma, pau preto, vernonia, gameleira, caqui preto, sapateiro, taturubá, e mais algumas árvores nativas da região amazônica. Então, a gente não quer perder as sementes dessas árvores que estão em extinção.”
De modo geral, as duas espécies mais cultivadas nos viveiros são de cacau e açaí, explica a integrante do setor de produção do MST. As demais são de castanha do Pará, andiroba, copaíba, pupunha, rambutã, canela, café, cupuaçu, bacurí, bacabá, taperabá, pequi, manga, murici, bacabí, sapucaia, cedro manso, angelin, angelin pedra, angico, ipê, mogno, pumaru.
Na Região Sul viveiro incentiva protagonismo da juventude Sem Terra
No Rio Grande do Sul, na região Norte, município de Pontão, no assentamento da antiga Fazenda Annoni, o MST desenvolve uma experiência de viveiro popular da Reforma Agrária Popular no Instituto Educar.
Denominado Viveiro da Reforma Agrária Popular Zecão, em homenagem ao militante histórico do estado José Siqueira, o espaço começou a ser montado em novembro do ano passado, como parte das atividades do Plano Nacional do MST: “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, a partir de algumas parcerias na região, fundamentais para viabilizar o projeto.
Marlon Rodrigues Fragas, agrônomo, integrante da direção estadual do MST e responsável pela manutenção do viveiro conta que a intenção do espaço é, primeiramente, contribuir para o desenvolvimento do Plano Nacional de plantio de árvores do Movimento, produzindo uma porcentagem de árvores nativas do Bioma da Mata Atlântica, que serão distribuídas aos agricultores/as das áreas de Reforma Agrária, bem como às escolas da região para incentivar o cuidado e a relação com a natureza.
“Além de produzir as mudas e a gente conseguir fazer com que esse trabalho chegue na casa dos agricultores e também sejam desenvolvidos nos modelos de produção, que a gente tem como horizonte a agroflorestal. Com isso a gente também vai tentando modificar os modelos de produção e tentando ter algumas ações de agricultura, mais vinculado a um comportamento cooperado com a natureza.”
Outra finalidade do viveiro é gerar conhecimento científico no Instituto Educar sobre as melhores tecnologias e forma de manejo, do plantio da semente até a produção de mudas saudáveis. “Descobrir as formas melhores e mais eficientes da gente conseguir produzir essas mudas. E a partir dai desenvolver esse conhecimento e essa ciência, pra dentro do Instituto Educar onde os educandos que passam, consigam ter contato diretamente com essa experiência e tirar dali um proveito técnico científico, pra ta levando pras suas regiões“, relata Marlon.
Para além disso, Marlon chama atenção que o viveiro também tem um papel central no protagonismo da juventude Sem Terra, quanto ao tipo de modelo de produção e no contraponto ao modelo de agricultura que está posto, fomentando a massificação da agroecologia e a preservação da natureza, como alternativa de produção e renda, contribuindo para a permanência dos jovens no campo.
“A juventude quer viver, quer trabalhar também, mas quer ter lazer, cultura. A gente tem que fazer diferente e o viveiro traz essa experiência diferente pra refletir e fazer o trabalho na prática. E juntamente com a ideia que a gente necessita produzir alimentos saudáveis, porque isso faz parte do nosso bem estar, se alimentar de um alimento saudável, que nos faça bem, mas também a gente quer oferecer isso pra população, através do processo da comercialização”, defende.
O agrônomo conta que o protagonismo da juventude Sem Terra do assentamento e do Instituto Educar também tem sido constante no manejo do espaço, com a participação em mutirões realizados a cada mês. “Consegue fazer um processo de integração entre os jovens, que na prática ajuda na organização da juventude. A partir dai surge outras ideias, de como a gente fazer comercialização, por exemplo, que é um debate que a gente já fez aqui, vinculado ao viveiro. Como a gente fazer experiências de cooperação, por exemplo, pra coleta de sementes – temos jovens hoje que coletam sementes nas suas casas e disponibilizam pra gente fazer o plantio aqui. Então, no momento que começa a fazer uma agroflorestal e vincular com a produção orgânica, traz muitos benefícios pros jovens que estão no assentamento, conseguir resistir nos lotes.”
O viveiro conta com a produção de mudas de cerca de 30 espécies, como canafístula, açoita cavalo, ipê amarelo, Ipê roxo, paineira, goiaba vermelha, goiaba branca, angico vermelho e branco, araçá amarelo e vermelho, maracujá, pata de vaca, goiaba serrana, ariticum, canela, mamão, umbu, louro pardo, aperta guéla, cereja, tarumã, sete capote, araucária, jerivá, erva mate, pau ferro, caroba, gramichinga, cedro e canjerana.
Essa é a primeira reportagem de uma série que irá mostrar experiências sobre a Rede de Viveiros Populares da Reforma Agrária, desenvolvidas pelas famílias do MST nas cinco regiões do país. Acompanhe!