Por G1/EPTV 2, São Sebastião do Paraíso, MG – Publicado em 13 de fevereiro de 2023
Apicultores de São Sebastião do Paraíso (MG) convivem com as mortes de milhões de abelhas desde setembro do ano passado. Pelo menos dez apicultores da região registraram o problema. Um laudo apontou que as abelhas morreram de envenenamento por agrotóxicos.
“Essas abelhas estão nesse apiário de 4 pra 5 anos e nunca teve problema né, de uns 2 anos pra cá mais ou menos, com a introdução de alguma cultura aqui em volta, a gente veio percebendo que veio morrendo abelha, mas não era nessa quantidade, morria as campeiras, mas o enxame continuava forte, com dois, três meses recuperava, mas desta vez não, desta vez morreram as abelhas tudo”, disse o apicultor Marcelo Francisco Ribeiro.
Só em uma propriedade, mais de 850 mil abelhas foram encontradas mortas. O prejuízo ainda não foi calculado.
“É um prejuízo grande, porque você vem montar desde caixa, até você por melgueira, até que você põe cera e vai levantando o exame, e tem alimentação também, você tem um gasto enorme sobre esses enxames, a gente fica meio constrangido às vezes e pensa em até abandonar a profissão”, disse o apicultor Valdivino Augusto Alvim.
Para tentar entender o que aconteceu na propriedade, o produtor procurou um laboratório no interior de São Paulo para que os insetos mortos fossem examinados. O teste apontou que as abelhas morreram por envenenamento devido ao alto índice de agrotóxicos.
“Eu fiz análise e constou veneno proíbido e constou inclusive “Aldicarbe”, que é conhecido como chumbinho, que pode matar uma pessoa e isso saiu na análise das minhas abelhas”, disse o apicultor Marcelo Francisco Ribeiro.
Envenenamento por agrotóxicos matou milhões de abelhas em São Sebastião do Paraíso, aponta laudo — Foto: Reprodução EPTV
O exame revelou que pelo menos cinco agrotóxicos foram encontrados em quantidades elevadas nas abelhas mortas, entre eles Glifosato, Clorpirifós, Permetrina, Propanil e Trifluralina, agrotóxicos utilizados para controle de pragas.
Segundo o doutor em Ecologia, Hipólito Ferreira Paulino Neto, alguns desses inseticidas já foram banidos em outros países, mas ainda são usados no Brasil.
“Se a toxicidade é alta e está sendo alta no Brasil, é bem comum isso, especialmente agora que teve uma liberação de quase 1,6 mil agrotóxicos que são banidos na União Europeia, nos Estados Unidos e aqui no Brasil é utilizado e até muito comercializado, elas intoxicam, começam a morrer e afetam todo um sistema, que é de comportamento das abelhas, por exemplo, o comportamento higiênico, de limpeza da colônia, de tirar pragas que afetam a colônia internamente ou de detectar abelhas doentes para não espalharem para a colônia inteira, afetam o comportamento defensivo daquela colmeia, ela fica vulnerável, o mel e o pólen, estão contaminados”, disse o professor.
Envenenamento por agrotóxicos matou milhões de abelhas em São Sebastião do Paraíso, aponta laudo — Foto: Reprodução EPTV
As abelhas são agentes polinizadores, ou seja, garantem a reprodução das plantas. A morte ou desaparecimento desses insetos são prejudiciais à humanidade, segundo o professor.
“As abelhas correspondem a 75% da polinização e da produção dos alimentos que o ser humano utiliza para viver. É muito surreal, o Homo sapiens, a nossa espécie chama Homo sapiens e sapiens, de sabedoria, a gente está agindo de forma totalmente ao contrário disso, não sábia e matando os polinizadores, matando quem produz a comida pra gente”, completou o professor.