Por Lays Furtado
Da Página do MST
Enquanto o governo Bolsonaro vetou, pela segunda vez durante a pandemia, apoio emergencial à Lei de apoio à agricultura familiar, conhecida como Lei Assis Carvalho 1 e 2, as trabalhadoras e trabalhadores rurais Sem Terra continuam cumprindo a função social da terra, ocupando os espaços de domínio dos grandes latifúndios improdutivos do Brasil. Só que dessa vez, rompendo as cercas do mercado financeiro.
Isso se dá a partir da consolidação de mais uma operação bem-sucedida de investimentos voltadas para as cooperativas da Reforma Agrária Popular, realizada por meio do movimento conhecido como Financiamento Popular da Agricultura Familiar (Finapop). Em operação inédita, em duas semanas, foi possível captar 17,5 milhões de reais em benefício direto à produção de 7 cooperativas e mais de 13 mil famílias assentadas.
Dessa forma, apesar das dificuldades enfrentadas com a falta de auxílio, políticas de fomento e acesso à créditos, camponesas e camponeses seguem fomentando soluções com o desafio de semear a terra, produzindo alimentos saudáveis, sem veneno e por um preço justo.
Foi conhecendo de perto essa realidade que o economista Eduardo Moreira e João Paulo Pacífico, fundador do Grupo Gaia, se tornaram agenciadores da captação de recursos que beneficiam a produção das cooperativas da Reforma Agrária Popular, conquistadas pela organização popular forjada na luta do MST.
“Sempre ouvi na mídia que o MST era um grupo de terroristas que roubava e não trabalhava… até que um dia o meu amigo Eduardo Moreira resolveu viver por algumas semanas em acampamentos e assentamentos ligados aos Sem Terra”, cita Pacífico em artigo publicado após o sucesso da última operação, onde teve participação fundamental depois de enfrentar muitos entraves com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado financeiro e chegou a suspender a operação temporariamente.
Repercussão e expectativas sobre as próximas operações
“Então, existe sim a expectativa de que novas operações sejam feitas, até por conta do sucesso dessa operação. Uma operação que teve 5 mil pessoas abrindo conta, interessadas em investir, e só 1.500 pessoas conseguiram investir”, cita Eduardo Moreira em entrevista ao MST. Isso porque muitas pessoas reclamaram que chegaram a abrir suas contas, porém não conseguiram contato com a corretora.
“A corretora deve ter ficado sem conseguir atender todas as pessoas que pediram as contas”, avalia Eduardo, o que evidencia a grandeza da operação. “Mas isso ao mesmo tempo abre espaço para uma próxima operação. Então, eu acredito que possa haver aí ao longo do próximo ano, ao longo dos próximos 12 meses, uma próxima operação dessa.”, complementa o economista, que é um dos maiores entusiasta e investidor do Finapop.
Sobre a repercussão na mídia, Eduardo comenta que a leitura tenha sido muitas vezes equivocada, onde foi feita uma leitura onde o MST estaria negociando ações na bolsa de valores. “O MST não fez nada, quem fez foram sete cooperativas que levantaram o financiamento para sua produção”. Outro equívoco colocado foi que o movimento estaria negociando na bolsa de valores, o que não é correto, afirmou.
Segundo Eduardo, não se trata de ações e sim títulos de renda fixa, que foram emitidos através de um CRA – Certificado de Recebíveis do Agronegócio. Além disso, os títulos não foram negociados na bolsa. “Eles podem ser negociados sim, mas não é na bolsa de valores, eles negociam no mercado de balcão.” – explicou o economista.
A operação histórica, ainda permitiu que pessoas pudessem investir a partir de R$100, reafirmando o caráter popular do financiamento Finapop. Para Eduardo, o ideal seria que os bancos públicos, como a Caixa ou Banco do Brasil liderassem operações como esta, “o que dificilmente vai acontecer com este governo que está aí…”, destaca Moreira, falando das expectativas que fariam as próximas operações serem ainda maiores.
*Editado por Fernanda Alcântara