por Alan Tygel
Em tempos de fake news, começa a surgir um novo tipo de abordagem: as “fake trues“, ou falsas verdades.
Desta vez foi a Folha de São Paulo que se achou no direito de “dizer a verdade” na matéria intitulada “Agrotóxico faz mal? É possível não usá-lo? Veja o que é verdade e mentira no debate”. Logo a FSP, com todo seu histórico de apoio à ditadura, se sente empoderada para dizer definitivamente o que é verdade e o que não é, segundo a “ciência e os cientistas”. Qual ciência, FSP? A do agronegócio parece apetecer mais ao veículo.
Logo de início, a matéria afirma que “é verdade” que agrotóxico é a mesma coisa que defensivo agrícola e pesticida. A FSP é um veículo de imprensa, e não é capaz de considerar o fato de que a diferença entre os termos é justamente um artifício de comunicação. Pesticida não mata apenas a peste, como afirma o texto; mata toda a vida no solo, pássaros, e mata pessoas também. Defensivos tampouco defendem a planta: tornam-a cada vez mais doente, e mais dependente dos agrotóxicos. Os termos não são, obviamente, a mesma coisa.
Depois, a FSP usa a tática do “consenso” para afirmar a “verdade” de que seria “Um consenso entre os acadêmicos conhecedores do sistema de produção de alimentos é que não é possível se livrar dos agrotóxicos”. Consenso entre quem? Foram perguntar para os milhares de produtores agroecológicos no Brasil, inclusive em larga escala? Consultaram as universidades que desenvolvem pesquisas em agroecologia?
O artigo segue com a grande “verdade” de que “É muito difícil demonstrar —ou rejeitar— a ideia de que alimentos produzidos por métodos orgânicos são mais seguros para a saúde do que os cultivados com a ajuda de agrotóxicos.” Será mesmo tão difícil provar que um alimentos produzido com veneno, que mata o solo, contamina a água, deixa resíduo na comida, é mais perigoso para a saúde do que um alimento produzido em harmonia com a natureza?
Finalmente, a pérola conclusiva: “Agrotóxicos podem causar a morte? Sim, podem —mas essa informação, por si só, não quer dizer muita coisa, já que praticamente todas as substâncias existentes têm uma dose letal.”
Ah, tá. Realmente, beber água em excesso pode matar. Logo, a diferença entre água e agrotóxicos é a dose. Raciocínio perfeito.
Detalhe: todos os “cientistas” consultados pela matéria trabalham para o agronegócio; nenhum especialista em agroecologia foi entrevistado.
[…] Folha de São Paulo usa ciência do agronegócio para julgar verdades e mentiras […]
Muito bom o texto, uma resposta clara e objetiva à reportagem tendenciosa da FSP .
Parabéns.