Frente Parlamentar de Agroecologia é lançada em Brasília

Movimentos criam frente de enfrentamento às políticas ambientais e agrárias de Bolsonaro

 

Por Nadine Nascimento, com fotos de Lula Marques

A política ambiental tornou-se um dos principais temas em debate no Brasil nos últimos meses, principalmente após o avanço das queimadas na Floresta Amazônica e liberações recordes de novos agrotóxicos com o incentivo do governo Jair Bolsonaro. Para propor alternativas ao agronegócio e debater a questão agrária e ambiental, a Câmara dos Deputados realizou, nesta terça-feira (3), o seminário Terra e Territórios: alimentação saudável e redução de agrotóxicos. Durante o evento, entre outras atividades, houve o lançamento da Frente Parlamentar de Agroecologia e Produção Orgânica.

Uma ampla frente composta por movimentos populares e sindicais do campo, águas e florestas, trabalhadores e trabalhadoras rurais, pesquisadores, organizações não governamentais, ambientalistas, representantes de governos progressistas, lideranças partidárias e parlamentares debateram os retrocessos nas políticas públicas anteriormente em um seminário ocorrido em São Paulo, em junho deste ano.

Sua continuidade realizada na Câmara dos deputados nesta terça-feira resultou na criação de uma frente unitária em defesa da agroecologia, com a união de outras 10 frentes parlamentares. “Diferentemente da agenda do governo Bolsonaro, essa agenda que nós não queremos que dê prosseguimento nesta casa, a agenda da morte, da reforma da Previdência, do veneno no alimento, da arma no campo para matar quilombola, indígena, ambientalista, sem terra; a agenda deste seminário é a agenda da vida, de respeito aos animais, aos mananciais, a biodiversidade, de alimentação saudável na mesa de todos os brasileiros”, definiu o deputado federal Nilto Tatto (PT).

Para a nutricionista, chef e apresentadora Bela Gil, a agenda do seminário é a de defesa de maior investimento do Estado brasileiro em políticas que universalizem o acesso à alimentação saudável. “Esse é o caminho que vamos conseguir alimentar o mundo, não só o Brasil, mas o mundo sem veneno. Cabe ao governo entender que investir na alimentação é investir na saúde da população. Tem muita gente que não consegue arcar com uma alimentação saudável porque o preço não cabe no seu orçamento. O governo precisa fazer com que o acesso à alimentação saudável chegue a todos. A agroecologia é muito importante para a população e para o planeta”, explicou a apresentadora Bela Gil.

O seminário reuniu parlamentares de legendas como PT, Psol, Rede e PSB e contou com a presença de indígenas, quilombolas, estudantes universitários e representantes de diferentes entidades. Entre elas, estão Contag, Greenpeace, WWF Brasil, Via Campesina, Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida.

Para João Paulo Rodrigues, dirigente do MST, a união desses grupos é o ponto de partida para um fortalecimento da luta política em defesa das pautas de interesse social, como a defesa da Previdência pública, o combate à reforma trabalhista, a defesa da reforma agrária e dos territórios, entre outras.

“O agronegócio se mantém porque tem uma agenda de hegemonia muito grande, uma aliança com os grandes meios de comunicação que fez com que ele chegasse até aqui. A possibilidade de nós avançarmos é trabalhar nessa direção, para conseguir o apoio da população e ganharmos hegemonia. A derrota deles só é possível se trouxermos consumidores para o nosso lado. Será uma batalha longa, uma disputa de hegemonia das ideias, mas já temos bagagem o suficiente pra dar esse salto de qualidade”, acredita o líder.

O empresário e produtor orgânico Joe Valle lembrou da importância da aprovação da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pnara), proposta no PL 6.670/2016, que enfrenta obstáculos impostos pela bancada ruralista. “Converso muito com produtores e vejo todos buscando alternativas diferentes dos agrotóxicos. Se isso não é o que as pessoas querem e o mundo mudou, se estamos vivendo outro momento, pra que servem os agrotóxicos, então? Já temos um arsenal enorme para produzir alimentos de qualidade, que não intoxicam o meio ambiente. Eles fazem bem pra saúde do planeta como um todo, e não só pro indivíduo”, afirmou, defendendo o modelo de produção sustentável, pautado na agroecologia.

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