O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) expressa sua preocupação com o adiamento da análise do agrotóxico carbendazim, informado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na semana passada, atendendo a pedidos das empresas fabricantes do agrotóxico. A substância, que é suspeita de causar câncer e malformação de fetos e, por isso, é proibida nos Estados Unidos e na União Europeia, seguirá sendo utilizada nas lavouras brasileiras por tempo indeterminado.
Em 2021, o Instituto lançou um estudo com a análise de 27 alimentos e bebidas, divididos em 8 categorias, encontrando agrotóxicos em 6 delas. O carbendazim estava presente na bisnaguinha Seven Boys e no cereal Nesfit, alimentos comumente consumidos por crianças. Além disso, entre 2012 e 2013, as exportações de suco de laranja para os Estados Unidos foram interrompidas, pela constatação da presença do carbendazim em laranjas brasileiras.
No início desse ano, a própria Anvisa, em estudo técnico, caracterizou a substância como tóxica, mesmo que em poucas quantidades, recomendando o banimento de sua venda e aplicação. Entretanto, na última semana de abril, o colegiado optou por adiar a decisão, buscando, antes, ouvir o Ministério da Agricultura e o Ibama (Instituto Nacional de Recursos Naturais e Renováveis). Não foi estipulado um prazo para a resposta dos órgãos.
O carbendazim é um ingrediente ativo de produtos para matar fungos nas lavouras. E, mesmo com seu aspecto toxicológico proibitivo de registros, o alto potencial de causar câncer e prejudicar o desenvolvimento humano, e seu banimento na União Europeia e Estados Unidos, ainda é um componente de mais de 41 marcas de defensivos agrícolas, produzidos por mais de 20 empresas do Brasil.
Para o Idec, é inaceitável o Brasil autorizar o uso de agrotóxicos comprovadamente nocivos à saúde e ao ambiente, e já proibidos em outros países. O adiamento fica ainda mais grave quando se é comprovado, também, que a substância é encontrada em alimentos comuns entre as crianças.
“Precisamos de medidas que ampliem a proteção à saúde dos consumidores e aos recursos naturais. Reforçamos que a população brasileira não deveria ser exposta à substâncias que já são comprovadamente tóxicas e prejudiciais”, disse o nutricionista Rafael Arantes, coordenador do programa de Consumo Sustentável do Idec.