Por Janelson Ferreira
Da Página do MST
A Via Campesina Brasil, no marco de celebração internacional dos 25 anos da definição, construção e luta pela Soberania Alimentar, realiza a Jornada da Soberania Alimentar: Contra o agronegócio para o Brasil não passar fome. A Jornada, que se iniciou no último dia 10, vai até o dia 16 (sábado), Dia Internacional de Ação por Soberania Alimentar dos Povos e Contra as Transnacionais.
Em um contexto de aumento da fome e da miséria no Brasil, o objetivo da Jornada é denunciar o agronegócio e o governo genocida de Bolsonaro, que é o responsável pela perda de mais de 600 mil vidas para a Covid-19. Ao mesmo tempo em que contribui para o aumento da fome no Brasil, o agronegócio expande seus lucros exportando commodities e deixando o rastro de miséria, fome, sangue e desmatamento.
A Via Campesina reafirma que é do campesinado que vem a saída para a fome e para a insegurança alimentar. Que temos experiência para reorganizar o sistema agrário, produtivo e alimentar para a dignidade de nosso povo e não para a fome.
Em entrevista, Marco Baratto, da direção nacional do MST, analisa o papel do agronegócio na atual conjuntura do país e como a soberania alimentar representa uma saída para as crises que assolam o Brasil e o mundo.
Confira:
O que é soberania alimentar e por que ela é tão importante para a classe trabalhadora no mundo inteiro?
Soberania Alimentar é a radical democratização dos processos de organização da produção, comercialização e distribuição de alimentos, tendo no respeito à cultura alimentar de cada território, no controle do trabalho e dos meios de produção, os elementos necessários que organizam a vida e a cultura nutricional do povo.
Importante ressaltar que a soberania alimentar e a soberania popular andam juntas, pois é o povo trabalhador, em especial, os camponeses, agricultores familiares, povos do campo, das águas e das florestas, sujeitos que constroem e resgatam a diversidade cultural e de cuidado com os diversos territórios socioambientais, onde o ato de comer, de se alimentar, contribui para organizar a vida do povo, seja do campo, seja das cidades.
Por isso que, mais de 70% dos alimentos necessários para a completa nutrição do povo, em escala mundial, são produzidos pelos camponeses, garantindo qualidade e diversidade na mesa do povo trabalhador. São os pequenos mercados, os circuitos curtos de comercialização, que garantem o abastecimento e de fato pode combater a fome, e para isso, se torna cada dia mais necessário que os agricultores familiares e camponeses tenham acesso e total controle dos meios de produção necessários para produzir alimentos saudáveis para todo o povo, sem distinção.
Atualmente, quais os principais desafios frente à luta pela soberania alimentar?
A luta pela Soberania Alimentar passa pela luta contra o modelo devastador do agronegócio. Tem na agroecologia e na reforma agrária os pilares fundamentais de disputa, apresentando um outro modelo de agricultura, sustentável, sem veneno, com diversidade produtiva, com controle popular dos meios de produção e que os bens da natureza, tão necessários para a sobrevivência dos povos, sejam preservados como patrimônio socioambiental da humanidade.
Podemos afirmar que o Bolsonaro representa uma ameaça à soberania alimentar no Brasil? Por que?
Com certeza. Bolsonaro é um inimigo dos povos. Ele não tem, e nunca teve, nenhum compromisso com a segurança e a soberania alimentar do povo. O compromisso que assume é com a morte, com o veneno, com a destruição da natureza. Incentiva a violência contra os povos do campo, o genocídio humano e ambiental. Ele é um inimigo dos biomas, e um aliado dos setores que violam direitos e violentam os povos que cuidam da terra e dos territórios, que produzem comida e cultura. Sua agenda é do agronegócio atrasado, da pistolagem e dos crimes ambientais.
A miséria, a fome, a inflação dos alimentos voltaram a ser realidade entre as famílias brasileiras. A soberania alimentar pode ser uma resposta a este cenário? Por que?
A soberania alimentar e a reforma agrária popular são essenciais para a sobrevivência dos povos em sociedade, em especial os povos que vivem nas cidades. Não há futuro se não houver uma profunda e radical mudança na estrutura fundiária e alimentar em nosso país. É somente com a democratização da terra e com o controle popular das relações de produção e trabalho na agricultura, que conseguiremos, de fato, superar grande parte das mazelas que assolam o povo, como a fome, a miséria, a violência e as desigualdades.
Existe uma profunda conexão entre estas mazelas sociais da atualidade com as formas hegemônicas capitalizadas pelo modelo do agronegócio e o impacto de sua ação no meio ambiente. As principais crises pandêmicas, doenças, são frutos deste modelo e do desequilíbrio causado. As 601 mil mortes pelo Covid 19 no Brasil constituem relação íntima com o modo de produção destruidor do agronegócio.
O que pretende a Jornada Nacional “Soberania Alimentar: Contra o agronegócio para o Brasil não passar fome”, que a Via Campesina Brasil está realizando este ano?
A Jornada Nacional pela “Soberania Alimentar, contra o agronegócio para o Brasil não passar fome” pretende denunciar o agronegócio e suas empresas transnacionais de controle da cadeia alimentar, afirmando que eles são os principais culpados pelo avanço da fome no Brasil e no mundo, pela alta dos preços dos alimentos, pela destruição ambiental e pelos crimes de violência contra os povos.
Reafirmar também sua responsabilidade pelo avanço da Covid 19, sendo co-responsaveis pelo genocídio de mais de 600 mil vidas de Brasileiras e Brasileiros até o momento.
Ao mesmo tempo, viemos reafirmar a soberania alimentar e a soberania popular como alternativa ao modelo do capitalismo agrário, que apenas produz fome e miséria. Nesta jornada, iremos continuar e aprofundar nossas ações de solidariedade doando toneladas de alimentos saudáveis para o povo brasileiro, em todos os Estados do Brasil, fruto da produção agroecológica dos povos do campo, das águas e das florestas, que de fato é quem alimenta o povo brasileiro, verdadeiros guardiãs e guardiões da biodiversidade.
*Editado por Fernanda Alcântara