O dado revelou a importância dos debates propostos no “Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, lançado recentemente no estado
“O brasileiro consome em média 5,2 litros de agrotóxicos ao ano. A situação é mais gritante no Mato Grosso, pois a fiscalização é claramente deficiente e a legislação não é respeitada. O mato-grossense chega a ingerir uma média de 40 litros por ano”, afirmou Fran Paula de Castro, educadora do programa da FASE no Mato Grosso, durante as atividades de lançamento no estado do “Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, realizadas pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida em Cuiabá e no município de Rondonópolis.
Leomar Daroncho, procurador e coordenador do Fórum Mato-Grossense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, também participou dos eventos. Ele explicou que, nesse tema, todos são vítimas. “Por isso o lançamento do Dossiê aqui é muito importante. Não é uma luta contra alguém, mas é uma luta pelo bem de todos nós”, ressaltou. Os debates motivados pelo Dossiê ocorreram nos últimos dias 23, 24 e 25 de julho e socializaram os conhecimentos construídos de maneira coletiva pelos autores da publicação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) junto à Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, à Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e à Expressão Popular.
Além de informações atualizadas da primeira versão do Dossiê, lançada em 2012, o novo material apresenta uma quarta parte com relatos sobre casos de pulverização de venenos e sobre o cenário de desregulamentação dos agrotóxicos. O capítulo também aborda as lutas pela redução dos químicos e pela transição agroecológica. Com mais de 600 páginas, o livro problematiza os riscos dos agrotóxicos à saúde humana e aos ecossistemas, trazendo dados, análises e outras informações, como painéis gráficos.
Saúde e transição agroecológica
“Como abordar a questão de saúde pública no Mato Grosso e não falar do perigo representado pelos agrotóxicos?”, indagou Lucinéia Freitas, coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Foi também nessa perspectiva que Maria Eduarda de Mello, nutricionista do Instituto Nacional do Câncer (Inca), reforçou a associação entre agrotóxicos e câncer. “O Brasil utiliza vários agrotóxicos proibidos em outros países justamente por serem letais e cancerígenos. Falar então de ‘tolerância do corpo humano’ não faz sentido, já que existem evidências suficientes para proibir a utilização dessas substâncias”, declarou. E completou: “O perigo está também nos produtos processados, já que o glifosato, cancerígeno, é utilizado no cultivo de milho, cana e soja, base dos produtos alimentícios processados”.
Os eventos de lançamento do Dossiê também destacaram a agroecologia como a alternativa para uma produção de alimentos diversificados e saudáveis. “O Dossiê contêm iniciativas, políticas públicas e propostas para essa transição [agroecológica]. A agroecologia garante uma produção de alimentos saudáveis, livre de agrotóxicos e de transgênicos”, explicou Fran Paula. “A agroecologia busca uma sociedade ambientalmente e socialmente justa, abordando questões como educação, preservação cultural, respeito e proteção de populações ameaçadas”, destacou ela, que também reforçou a necessidade de se implantar no Mato Grosso o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), criado a partir da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo).
Veja a matéria do SBT Comunidade sobre o assunto: