A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), primeira organização ambientalista brasileira e uma das pioneiras no mundo, completa, terça-feira (27), 50 anos de luta em defesa das pautas ambientais. A passagem da data será marcada pelo lançamento de um vídeo comemorativo. O evento virtual ocorre às 19h da próxima terça-feira, mesmo dia do aniversário, e será transmitido pelo canal da associação no YouTube.
“Estamos vivendo os piores retrocessos ambientais em 50 anos de história. Mas, para ter força para brigar, é preciso saber festejar”, diz Francisco Milanez, presidente da Agapan. Membro da entidade desde os 14 anos, ele destaca: “Em 1971 não se sabia o que era Ecologia, até então uma ciência praticamente desconhecida. Colocamos esse tema em pauta e tivemos grandes conquistas”.
A partir do lema da Agapan, “A vida sempre em primeiro lugar”, Milanez indica o pensamento que norteia muitos dos passos e ações da entidade: “A vida humana é uma das tantas manifestações da teia interdependente da existência, teia essa que deve ser protegida e respeitada”.
No dia do aniversário também será lançado o novo site da associação. Além disso, o terreno da Agapan, localizado na esquina das avenidas Aureliano de Figueiredo Pinto e Praia de Belas, espaço cedido pela prefeitura, ganha neste final de semana grafite do artista visual Amaro Abreu. Em junho, completam dez anos desde a demolição criminosa do galpão que abrigava a sede da entidade, no mesmo local.
No dia 29 de abril, a Agapan receberá a Medalha da 55ª Legislatura da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em evento também virtual devido às restrições impostas pelo necessário distanciamento social decorrente da Covid-19.
Uma história de lutas desde 1971
Criada em 27 de abril de 1971, em Porto Alegre (RS), a Agapan teve entre suas primeiras causas a luta contra os agrotóxicos, a destruição causada pela mineração, a poluição industrial gerada pela celulose e a poda indiscriminada de árvores na Capital gaúcha. Teve como sócios-fundadores Augusto Carneiro, Hilda Zimmermann, Alfredo Gui Ferreira e José Lutzenberger – este último seu primeiro presidente –, entre outros ambientalistas.
Quatro anos após sua fundação, a associação ganhou repercussão nacional e internacional pela atitude do então estudante de engenharia elétrica e membro da Agapan, Carlos Dayrell. Na manhã de 25 de fevereiro de 1975, ele subiu em uma tipuana que seria abatida na Avenida João Pessoa, em frente à Faculdade de Direito, para a construção de um viaduto, impedindo assim seu corte. À tarde, Teresa Jardim, acadêmica de Biblioteconomia, e Marcos Saraçol, aluno de Matemática, também subiram na árvore. As motosserras silenciaram, e essa e outras tipuanas estão até hoje no local. Foi um marco do movimento ambientalista e que sacudiu a opinião pública mundial.
Já em 17 de agosto de 1988, a Usina do Gasômetro foi palco de uma inédita manifestação que queria chamar a atenção para a votação do Projeto Praia do Guaíba, que ocorreria naquele dia na Câmara de Vereadores. Gert Schinke, Guilherme Dorneles, Gerson Buss e Sidnei Sommer, militantes da Agapan à época, escalaram a chaminé e em seu topo colocaram uma faixa de protesto ao projeto, levando ao centro da agenda política a ocupação da orla do Rio Guaíba, objeto de permanente polêmica.
Em 1976, a entidade publicou o livro “Fim do Futuro? Manifesto Ecológico Brasileiro (1976), primeiro e principal pronunciamento do Movimento Ecológico Brasileiro, escrito por Lutzenberger.
Entre os fatos ocorridos ao longo destes cinquenta anos, a Agapan destaca a criação da primeira Secretaria de Meio Ambiente do Brasil, em Porto Alegre, abrindo caminho para outras secretarias ambientais do país e do próprio Ministério do Meio Ambiente. Outro avanço comemorado é a Lei Estadual nº 7.747/1982, que dispõe sobre o controle de agrotóxicos, anterior à legislação brasileira e exemplo para outros estados.
A participação também foi ativa na proposição e criação do Parque Nacional dos Aparados da Serra, do Delta do Jacuí, do Taim, do Turvo, de Itapuã, de Itapeva, do Espenilho, do Morro do Osso e da Reserva Ecológica Municipal José Lutzenberger, hoje Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger, bem como do Parque Nacional Fernando de Noronha, com a posterior criação do primeiro Plano de Manejo de parque do Brasil.
A Agapan participa do Conselho Estadual de Saúde desde a sua criação, do Conselho Municipal de Saúde e do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre, do Fórum Brasileiro de Combate aos Agrotóxicos, do Comitê de Combate à Megamineração no Rio Grande do Sul, entre outros.