Do Brasil de Fato
A Justiça do Trabalho da cidade de Gualeguaychú, na província de Entre Ríos, na Argentina, proferiu uma decisão a favor da professora Estela Lemes, reconhecendo que a pulverização de agrotóxicos próximo à escola rural Bartolito Mitre, em Costa Uruguai Sur, a adoeceu.
O caso é mais um reconhecimento contundente da nocividade dos agrotóxicos à saúde humana. A Câmara do Trabalho da cidade ordenou que o Instituto Autárquico Provincial del Seguro de Entre Ríos indenizasse a profissional e se encarregasse dos custos de seu tratamento.
Segundo a agência de notícias Tierra Viva, aviões de fumigação com pesticidas começaram a sobrevoar a escola Bartolito Mitre em 2006. Quatro anos depois, após filmar um vídeo mostrando que agrotóxicos eram pulverizados a pouco metros da escola e durante manobras deixavam cair veneno em áreas onde estavam alunos e professores, a professora ingressou com uma ação judicial.
Ela passou anos denunciando a prática à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e enfrentou questionamentos da Aseguradora de Riesgos del Trabajo (ART), o equivalente ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) no Brasil.
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Uma década após a primeira pulverização, um exame de sangue constatou que Lemes tinha glifosato em seu sangue. Hoje, a professora convive com atrofia muscular e danos neurológicos.
“Eu lutei por mim, por minha doença e por meus filhos, para que se soubesse que os agrotóxicos te deixam doente e te matam. Quando falam de ‘agroquímicos’ ou ‘pesticidas’, eu lhes digo: ‘agroquímicos tóxicos’. Eu sei que eles entram no corpo e te deixam doente”, assegurou Lemes, em entrevista à Rádio Nacional Gualeguaychú.
O caso de Estela Lemes cria um precedente judicial para a luta contra os agroquímicos tóxicos na província de Entre Ríos, que já tem uma longa luta contra a pulverização agroquímica.
O glifosato, inclusive, havia sido proibido no município de Gualeguaychú. Entretanto, o governador Gustavo Bordet derrubou uma decisão histórica do Supremo Tribunal Provincial por meio de um decreto e autorizou a manutenção da pulverização agroquímica em áreas escolares a apenas 100 metros de distância por terra, e a 500 metros de distância caso a aplicação ocorra pelo ar. Já uma organização dos vizinhos defendia que a proibição fosse de 1.000 metros de distância por terra e 3.000 metros de distância pelo ar.
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“A decisão reconheceu que fui pulverizada enquanto estava trabalhando. Os agrotóxicos deixam você doente e o matam. A justiça foi feita”, disse Lemes.
Edição: Vinícius Segalla