Por Nayá Tawane
Do Brasil de Fato
O ofício que antigamente era ensinado somente para as mulheres, porque diziam que elas não precisavam aprender a ler e escrever, segue hoje como uma tradição que ensina, sobretudo, o respeito ao meio ambiente.
Eunice da Conceição, que aprendeu a tradição com os avós e hoje é coordenadora regional do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) explica a ligação deste ofício com a resistência das mulheres.
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“É uma história e é uma conquista muito longa a luta da quebradeira de coco. Só de termos conhecimento dos nossos direitos, já é uma grande coisa. Por isso dizemos hoje que somos livres, porque temos o direito de ir e vir. Temos os direitos de fazer as nossas escolhas”, afirma.
é muito importante, porque é onde a companheira tira a sua fonte de renda
Depois da coleta nas palmeiras de babaçu, que podem chegar até 20 metros de altura e as folhas 8 metros de comprimento, as mulheres se reúnem para quebrar os cocos e extrair a castanha que é utilizada no preparo de azeite e óleo in natura.
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Depois de extraída, a castanha é torrada, moída e cozida para a extração do óleo. O pequeno fruto marrom é aproveitado inteiro, sem nenhum desperdício.
“A partir do coco babaçu se produz azeite, óleo, carvão e artesanato”, explica Marinalda Rodrigues, quebradeira de coco no Piauí.
As quebradeiras de coco de babaçu conseguem manter a renda com essa tradição cultural. No Assentamento Nova Estrela, que fica no município de São Sebastião, no Tocantins, por exemplo, são aproximadamente 69 famílias que vivem da extração do coco, contexto semelhante que ocorre em outros estados brasileiros.
Cada uma das regiões enfrentam dificuldades distintas, mas um dos principais conflitos vem da destruição provocada pelo agronegócio.
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Os relatos das quebradeiras são de que este modelo de exploração dos recursos tem desmatado as áreas babaçuais para o plantio de monoculturas como o eucalipto.
“A forma das mulheres em ter a fonte de renda delas é muito importante, porque é onde a companheira tira a sua fonte de renda, dos babaçuais e pra isso acontecer temos que ter a garantia desses babaçuais em pé. Por isso que falamos sempre em agroecologia, em território”, defende Conceição.
Sabemos que tendo terra e território temos também o nosso babaçu em pé
Com a pandemia, a situação ficou ainda mais difícil, mas as quebradeiras de coco das mais diversas regiões do país tem se mobilizado em grupos para defender seus direitos e manter viva essa tradição e cultura que se opõe à lógica exploratória do meio ambiente.
“A história das quebradeiras da nossa região se dá há mais de 30 anos. Por água, terra, e empoderamento das mulheres”, afirma Rodrigues.
Edição: Douglas Matos