Por Paulo Motoryn, Brasil de Fato – Publicado em 13 de Janeiro de 2023 às 10:25
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou para a história do país como o que liberou, em média, mais de um agrotóxico por dia, considerando os três primeiros anos de mandato à frente do Palácio do Planalto. A gestão do ex-capitão do Exército autorizou, até o início de 2022, uma média de 1,4 por dia, muitos deles altamente perigosos à saúde e ao meio ambiente e, por isso, proibidos em muitos países.
Enquanto o Executivo “passava a boiada” e batia recordes na liberação de agrotóxicos, o Palácio da Alvorada servia ao então presidente um cardápio com legumes, frutas e vegetais orgânicos. A informação consta na base de dados dos gastos do cartão corporativo de Bolsonaro, que estava em sigilo durante o governo anterior, divulgada pela gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 6 de janeiro.
De acordo com os registros oficiais, os cartões de crédito da Presidência da República foram utilizados 158 vezes em CNPJ’s ligados ao Mercado Malunga, comércio de Brasília que vende uma grande variedade de hortaliças, legumes e laticínios orgânicos produzidos de forma sustentável na Fazenda Malunga, localizada à 70 km de Brasília.
“O Mercado Malunga é uma rede de pessoas, que buscam oferecer uma grande variedade e qualidade de produtos orgânicos para a sua comunidade, buscamos semear a conscientização em relação à alimentação saudável e tecer uma rede colaborativa que acredita que para sermos felizes precisamos cuidar da nossa saúde e do nosso planeta, através da nossa ferramenta mais valiosa, o alimento”, diz o site da empresa.
O valor total gasto com dinheiro público no Mercado Malunga foi de R$ 6.773,24 e, na média, as compras foram de R$ 42,87. A compra mais alta, de R$ 219,88, foi feita em 28 de outubro de 2022. A mais baixa ocorreu em 29 de abril, quando foram gastos R$ 7,99.
Os gastos dos cartões corporativos da Presidência foram publicados pelo governo federal em 6 de janeiro. Dias depois, o Executivo respondeu a uma série de pedidos feitos por organizações, veículos e cidadãos por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação). Até então, o governo Bolsonaro argumentava que deixaria os valores em sigilo até o fim do mandato, seguindo um trecho da própria lei.
Apesar de consumir orgânicos no Palácio da Alvorada, Bolsonaro deu uma série de declarações favoráveis ao uso de pesticidas na plantação de alimentos : “Se estivéssemos envenenando os nossos produtos, o mundo não os compraria. É simples!”, afirmou, em 2019. Os seus ministros da Agricultura, Tereza Cristina, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também acumularam falas defendendo o uso de agrotóxicos.
Outro lado
Como o agora ex-presidente Jar Bolsonaro não tem assessoria de imprensa constituída, não foi possível entrar em contato com sua equipe para buscar um posicionamento para a elaboração desta reportagem. O espaço, porém, segue aberto para manifestações, e o texto poderá ser atualizado.