Localizada na divisa entre o Ceará e Rio Grande do Norte, a Chapada do Apodi é hoje um dos principais símbolos da luta que se trava no Brasil entre modelos distintos de desenvolvimento, opondo a agricultura familiar ao agronegócio.
por Nadine Nascimento
Em 1989, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) implantou um projeto de irrigação no lado cearense da Chapada do Apodi, o que possibilitou a instalação de cinco grandes empresas de fruticultura, modificando o cenário local. Com isso, boa parte dos pequenos agricultores que cultivavam a própria terra naquela época se viram obrigados a trabalhar para as companhias. Além da concentração de terras, o uso em larga escala de agrotóxicos contaminou canais de irrigação em cidades como Limoeiro do Norte, Quixeré e Russas, localizadas no perímetro irrigado, e a incidência de câncer chega a ser 38% maior do que em outros municípios de porte semelhante.
“Em nossa região encontramos muitos casos de má-formação congênita e puberdade precoce. Temos também um grande índice de pessoas diabéticas, com gastrite, depressão, muitas tentativas de suicídio, além das mortes de câncer”, conta em entrevista à Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a agricultora Socorro Guimarães, enquanto participava do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, no Rio de Janeiro. Socorro é moradora da comunidade de Tomé, zona rural de Limoeiro do Norte.
A agricultora de voz serena e sorridente saiu de seu estado natal pela primeira vez para fazer denúncia do que ocorre na Chapada do Apodi. Em sua fala, relembra um dos casos mais emblemáticos de enfrentamento ao uso de agrotóxicos, quando o líder comunitário Zé Maria do Tomé foi assassinado, em 2010. Ele era um dos maiores defensores da proibição da prática da pulverização aérea de agrotóxicos nas lavouras do município. Socorro era vizinha de Zé Maria e relata como a morte dele impactou a comunidade.
“Zé Maria estava na linha de frente da luta contra os agrotóxicos em Tomé. Ele fazia toda a luta sozinho. Quem ia na rádio e na TV denunciar? O Zé Maria. Quem ia para a Câmara dos Deputados? O Zé Maria. Então, com a morte dele, todo mundo ficou com medo de se mobilizar também”, lembra a agricultora. Segundo ela, apenas um ano depois do assassinato a comunidade conseguiu fazer um memorial e retomar a luta contra os agrotóxicos na região. “As pessoas pensavam ‘se eu falar da empresa, eu vou perder meu emprego. E aí, vou sobreviver do que?’. Muitos nem pensavam na saúde, nos riscos dos agrotóxicos, só em sobreviver”, conta.
Para ela, quase dez anos após a morte de Zé Maria, a tentativa de silenciar as vozes contrárias a expansão do modelo agroexportador na região não obtiveram êxito, pois os movimentos sociais e as comunidades da região se uniram para continuar denunciando os crimes e as violações de direitos promovidas pelo agronegócio. Uma dos momentos mais importantes para a organização dessas lutas é justamente a Semana Zé Maria do Tomé que ocorre, anualmente, durante a semana do dia 21 de abril. “Nosso movimento a cada ano está mais bonito. Em 2018, conseguimos reunir quatro mil pessoas em marcha. A gente tem dificuldade, mas a gente luta todos os dias”, diz a agricultora.
Um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017(Dados do Min.Saúde).
E a atual Ministra da Agricultura (representante do agronegócio) há uns dias atrás liberou mais 31 novos agrotóxicos, a maioria sendo classificados como “extremanente tóxicos”!
Quer dizer então que a água que lavamos as frutas e verduras que já vem banhada de agrotóxicos também está intoxicada!!! E nós, como ficamos? Ora!.. INTOXICADOS! Simples assim!
Solidarizo-me com essa luta!