Por Maria Aparecida
Da Página do MST
Na tarde dessa quinta-feira (23), dentro da programação da Feira da Reforma Agrária e Economia Solidária Paulo Kageyama, que acontece no Festival Internacional da Utopia, em Maricá, Rio de Janeiro -, foi realizado o primeiro de três seminários que discutirão temas como a soberania alimentar, o consumo de agrotóxicos e transgênicos, a economia solidária, entre outros.
Na mesa de abertura que teve como tema: “A realidade dos agrotóxicos e transgênicos no Brasil e seus impactos sobre a saúde humana e ambiente”, estavam presentes Sheila Castro, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Gabriel Fernandes, da Campanha Brasil Livre de Transgênicos, e Alan Tygel, integrante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida.
Alan Tygel iniciou sua fala com a pergunta: “Qual o motivo que levou o Brasil a se tornar o maior consumidor de agrotóxicos do mundo?”.
Segundo ele, dois fatores se complementam. O primeiro é a concentração fundiária, que não mudou muito desde 1500: 1% dos fazendeiros controlam 45% das terras agricultáveis do país. Além disso, a produção rural que prioriza o monocultivo de poucas espécies para exportação, gera uma agricultura químico-dependente: só funciona com muito veneno e fertilizante químico. É nesse contexto que o Brasil se torna o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida surge com a proposta de articular diversos movimentos para fazer denúncia ao perigo dos venenos e anunciar uma alternativa que já é realidade: a agroecologia.
Já Sheila Castro, reafirmou o perigo que os agrotóxicos representam para a saúde humana e o meio ambiente.
Segundo ela, “o efeito crônico causado pela exposição contínua aos agrotóxicos durantes anos tem chances de provocar não apenas câncer, mas diversas outras doenças. Em muitas comunidades rurais que se utilizam de agrotóxicos, se verifica uma incidência de câncer maior do que a média”.
Sheila ressaltou ainda que lavar e tirar a casca não elimina os agrotóxicos, pois seu efeito é sistêmico. A solução é mudar o modelo de produção para uma agricultura saudável, sem uso de venenos e transgênicos.
Gabriel Fernandes, também questionou em sua fala: “Que tipo de planta, de alimento a gente pode comprar ou comer com a certeza de que não tenha transgênicos?”. Foi suficiente para o burburinho na sala. Uma resposta veio logo em seguida num novo questionamento: “talvez a pergunta deva ser outra, o que não tem transgênicos no que compramos hoje?”.
Ao final de sua exposição, Gabriel respondeu a própria pergunta.“Temos um desafio importante de entender esse modelo de produção capitalista, justamente para achar a resistência que está no campo e, a partir da prática, encontrar novas formas de fazer agricultura, esse é um dos muitos desafios da classe trabalhadora no Brasil”, finalizou.