Por Redação do Brasil de Fato – Publicado em 20 de março de 2023.
Afinal, o que significa aquele T dentro de um triângulo amarelo nas embalagens de diversos produtos nas prateleiras dos supermercados? E o que isso pode significar de impacto para nossa saúde?
O T na embalagem significa que dentro daquele produto há algum alimento transgênico, ou seja, “lantas geneticamente modificadas em laboratório. Não se trata de uma evolução natural. Mistura-se o código genético dessa planta com genes de outras espécies. Podem ser bactérias, podem ser outras espécies, doadoras de algum gene, que vão trazer alguma característica para essa planta”, explica Alan Tygel, membro da coordenação da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, em entrevista ao programa Bem Viver, na edição desta segunda-feira (20).
T envolta de um triangulo amarelo é um sinal recorrente em diversos produtos nos mercados, principalmente, em ultraprocessados / Foto: Divulgação Idec
O especialista comenta que a transgenia é feita, basicamente, para dois fins: fazer com que as plantas “modificadas aguentem banhos e banhos de herbicidas, ou seja, agrotóxicos, ou elas são modificadas para elas mesmo produzirem agrotóxicos”.
Por tanto, para Tygel, não é exagero afirmar que alimentos transgênicos são, sim, mais pulverizados com agrotóxicos e, também, com produtos mais fortes.
“A correlação entre o aumento da área plantada de soja transgênica no Brasil e o aumento no uso de agrotóxicos é uma correlação muito forte. Então, a partir do momento que o Brasil liberou os transgênicos, oficialmente, o volume do consumo de agrotóxicos passou a ser muito maior em relação à produção”, conclui o pesquisador.
Saúde e meio ambiente
O glifosato é a principal substância utilizada em plantações transgênicas. O produto mais conhecido é o Roundup, da multinacional Monsanto. Em alguns lugares, ele é conhecido popularmente como ‘mata-mato’, por sua fama de impedir o crescimento de qualquer tipo de planta no solo, apenas aquelas modificadas geneticamente para suportar a substância, como é o caso da soja transgênica.
Hoje, o produto está na mira de agências de vigilância sanitária e saúde. Alguns países do mundo estão mudando a conduta em relação ao glifosato. Um deles é o Sri Lanka, em decisão tomada no ano passado.
“Na União Europeia a licença de uso do glifosato foi concedida por um período menor do que costuma ser. No ano que vem nós já vamos ter de novo o processo de discussão sobre a renovação do glifosato na União Europeia”
Aqui no Brasil, a licença ao glifosato foi concedida no ano passado sem ressalvas.
A preocupação de Tygel e de alguns países tem base científica. A OMS (Organização Mundial da Saúde) já emitiu um comunicado advertindo que o produto tem potencial cancerígeno.
“O que a gente tem hoje de mais forte é a comprovação da relação do glifosato com o câncer, em especial com o linfoma não-hodgkin, que é um tipo de câncer”, aponta Tygel.
Hoje o grande destino da soja transgênica no Brasil é a exportação. E boa parte do grão tem como função ser ração animal, em especial para carnes de abate. Mesmo estando longe do prato do brasileiro e brasileira, no final das contas, indiretamente, os agrotóxicos pulverizados na soja transgênica chegam aqui
“O ovo da galinha que comeu ração transgênica, contendo glifosato, vai ter resíduo de glifosato. Então, é algo que vai, ele não desaparece, né? O glifosato não desaparece. A carne do boi que comeu uma ração com soja transgênico, vai ter resíduo de agrotóxico”.
“Mas não é só isso, né? A gente tem muitos estudos que comprovam a relação do glifosato com problemas nos polinizadores. Ou seja, abelhas e outros polinizadores são seriamente afetados pelo glifosato. E outros problemas também de ordem hormonal, inclusive, que podem vir a causar danos genéticos e malformações em futuras gerações.”
Dependência
O pesquisador faz uma última advertência. Tygel lembra que a semente da soja transgênica é um produto, significa que ela é patenteada, tem o domínio de tecnologia de determinadas empresas. Então, para ter acesso a essa semente, os produtores precisam comprar das multinacionais, o que gera duas consequências.
“Há um aumento do valor na produção, as sementes são mais caras que as comercializadas pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]”, explica.
E a segunda é que “hoje o agronegócio brasileiro ele é completamente dependente dessas empresas. Num cenário geopolítico conturbado, como a gente tem hoje, não seria nada improvável que, por alguma sanção, por alguma alguma questão comercial, essas empresas, por exemplo, parassem de fornecer essa semente no Brasil, e a gente vai ter uma catástrofe no agronegócio no dia seguinte.”
Card Bem Viver / Brasil de Fato
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